Armas de caça pré-históricas com 7.000 anos são encontradas nos EUA
Kit preservado em caverna no Texas inclui bumerangue, dardos com ponta de pedra e lança, e revela detalhes da vida dos primeiros caçadores do continente

Um conjunto de armas de caça datado de cerca de 7.000 anos foi encontrado em uma caverna no oeste do Texas, nos Estados Unidos, e pode representar o sistema de armas mais antigo já identificado intacto na América do Norte. O achado inclui pontas de dardos, pedaços de lança, um bumerangue retilíneo, hastes que teriam servido para aplicar veneno e até uma pele de animal dobrada — vestígios de um cotidiano que permaneceu praticamente intocado por milênios.
As escavações foram realizadas na San Esteban Rockshelter, uma formação rochosa próxima da cidade de Marfa, na região de Big Bend. Ali, arqueólogos acreditam que um caçador pré-histórico se abrigou, reacendeu a fogueira e avaliou seu equipamento de caça, descartando peças quebradas antes de seguir caminho. Esses restos permaneceram preservados no ambiente seco da caverna, até serem redescobertos por cientistas anos depois.
Por que essa descoberta é tão importante?
Além da raridade do material — especialmente artefatos feitos de madeira, que costumam se degradar com o tempo —, o kit impressiona pela completude. Foram identificadas quase todas as peças que compunham um sistema modular de dardos utilizado com um atlatl, um tipo de propulsor de lanças. Entre os itens, há seis hastes de madeira com pontas de pedra, quatro pontas de madeira dura possivelmente usadas com veneno, partes do atlatl e quatro encaixes traseiros de dardos. Embora nenhum dos componentes esteja completo, o conjunto é suficientemente preservado para que especialistas consigam reconstruir sua função e design.
O bumerangue retilíneo também chama atenção. Diferente dos modelos que retornam ao lançador, esse tipo de arma era projetado para voar em linha reta e atingir pequenos animais. Pesquisadores explicam que esses objetos, curvados com o auxílio de calor e moldes, eram pesados o suficiente para incapacitar presas e foram usados em diferentes partes do mundo desde pelo menos 30 mil anos atrás.
O que os restos humanos e a pele de pronghorn revelam?
Junto aos instrumentos de caça, os pesquisadores também encontraram restos de fogueira, fragmentos de ossos e fezes humanas fossilizadas, conhecidas como coprólitos. Esses resíduos podem revelar detalhes sobre a dieta, o ambiente e até o DNA dos habitantes da região naquela época. Ainda será necessário obter autorização de comunidades indígenas para realizar testes genéticos nesses materiais.
Outro item marcante foi uma pele dobrada de pronghorn, um animal semelhante a uma antílope nativo da América do Norte. A pele, que estava curtida e ainda mantinha pelos preservados, provavelmente foi usada como parte do equipamento de caça. Pequenos furos ao longo das bordas indicam que ela pode ter sido esticada em uma armação para amaciamento, uma prática comum entre povos das planícies históricas.
O que os pesquisadores ainda querem descobrir?
Apesar da riqueza do material, os pesquisadores ainda não sabem se todos os objetos encontrados pertenciam a um mesmo caçador e a uma única ocasião, ou se foram deixados ali em períodos diferentes. Radiocarbono indica que algumas peças são mais antigas que outras, mas isso pode estar ligado à reutilização de madeira mais velha — um desafio comum em arqueologia, conhecido como “problema da madeira antiga”.
O estudo, conduzido por arqueólogos do Center for Big Bend Studies e da University of Kansas, ainda não foi publicado na íntegra. A equipe planeja retornar à caverna em breve para continuar as escavações. O que já foi encontrado, porém, permite aos cientistas montar um retrato vívido e raro da vida dos primeiros habitantes da América do Norte — uma história contada por paus, pedras, fogo e pele, esquecidos em uma caverna por milênios.