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A ciência é sexista

Britânica Angela Saini diz que cientistas, a começar por Darwin, erraram ao decretar a inferioridade feminina sem considerar o contexto social

Por Ana Clara Costa
Atualizado em 13 ago 2017, 08h00 - Publicado em 13 ago 2017, 08h00

Jornalista especializada em ciência, a britânica Angela Saini, de 36 anos, surpreendeu-se mais de uma vez ao deparar com teses científicas que ainda hoje sugerem algum tipo de inferioridade feminina em relação ao gênero masculino. Para questionar esse entendimento, ela reuniu um calhamaço de teses que atribuem às mulheres características — biológicas ou comportamentais — desfavoráveis em relação aos homens e as confrontou com pesquisas científicas que dizem justamente o contrário. O resultado foi o livro Inferior: How Science Got Women Wrong (Inferior: como a ciência se enganou com as mulheres, em tradução literal), ainda sem previsão de lançamento no Brasil. A formação de Angela lhe garante credenciais para a empreitada. Egressa de um mestrado em engenharia na Universidade de Oxford e de outro em ciência pelo King’s College, ela atuou no jornalismo científico em veículos como a New Scientist, The Guardian e BBC. Seus achados não poupam nem Charles Darwin — para ela, causador de um “dano irreparável” à reputação do gênero feminino. Angela falou a VEJA por telefone, de Londres. A seguir, trechos da entrevista.

O engenheiro do Google James Damore foi demitido depois de divulgar um memorando no qual sugeria que as mulheres são biologicamente menos aptas que os homens para trabalhar na área de tecnologia. Ele está errado? Ele usa evidências científicas (James Damore é mestre em ciência pela Harvard) para defender a ideia de que as mulheres são, em média, biologicamente diferentes dos homens, de uma forma que as torna menos capacitadas para determinado tipo de trabalho — nesse caso, o trabalho no campo tecnológico. Há uma vertente da neurociência que tenta popularizar a noção de que o cérebro das mulheres e o dos homens são diferentes. Um teria mais facilidade em exercitar a empatia, enquanto o outro teria mais aptidão para analisar sistemas, por exemplo. Damore se valeu dessa tese em seu memorando.

Damore afirma também que as políticas de estímulo à diversidade do Google têm um viés de esquerda. A diversidade virou uma bandeira da esquerda? A igualdade é um valor universal, é um direito humano. O que é certo, nesse caso específico do Google, é que a entrada das mulheres num território essencialmente masculino, como o da tecnologia, parece estar ameaçando os homens. Alguns temem perder espaço para mulheres que ascendem, e isso faz com que busquem justificativas para impedir esse movimento.

O que a senhora pretendeu provar ao confrontar em seu livro teses que sugerem a inferioridade da mulher com outras que dizem o contrário? Há um estudo no mundo para justificar qualquer ideia. Eugenistas tiveram amplo apoio de instituições renomadas dos Estados Unidos quando afirmaram que havia tipos distintos de raça humana — algo que se provou moral e tecnicamente errado. Hoje ainda é possível achar teses que afirmam que uma determinada etnia é inferior a outra. Mas o fato de algo estar publicado significa que é verdade? Para chegar à verdade, é preciso um conjunto de pesquisas, é preciso questionar essas pesquisas e levar em conta o contexto em que elas foram feitas.

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O que a fez concluir que a ciência é sexista? A ciência nasceu dentro de um contexto cultural em que a mulher era vista de forma diferente do homem. “Homens são promíscuos, mulheres, monogâmicas; homens são fortes, mulheres, frágeis; homens são provedores mulheres, dependentes.” Esse viés sexista conduziu a sociedade até poucas décadas atrás. Então, não é surpreendente que a ciência tenha seguido o mesmo caminho, reproduzindo estereótipos e baseando seus estudos em suposições herdadas da sociedade.

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