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China quer vencer os Estados Unidos na nova corrida espacial

Embalado pelo entusiasmo dos cidadãos, o país gera oportunidades que, se bem aproveitadas, beneficiarão todo o planeta

Por Sergio Figueiredo Atualizado em 4 jun 2024, 13h54 - Publicado em 7 Maio 2021, 06h00

A conquista da Lua custou milhões de dólares aos cofres públicos investidos em uma tecnologia que ainda não existia e jamais teria se concretizado se os contribuintes americanos não tivessem comprado a ideia. Nos anos 1960, os astronautas tomaram o lugar dos caubóis como “heróis dos Estados Unidos”, especialmente quando a imprensa começou a cobrir diariamente os avanços do programa Apollo. Era comum famílias se deslocarem de todos os cantos do país até a Flórida só para ver de perto os lançamentos de foguetes no Cabo Canaveral. Agora, ao que tudo indica, a empolgação com os voos espaciais está de volta, com a diferença de que o fenômeno ocorre em outro lugar. Na manhã de 29 de abril, milhares de pessoas se reuniram em torno da base de Wenchang, na província de Hainan, na China, para testemunhar a decolagem do Longa Marcha 5B, cuja carga embarcada tinha 22,5 toneladas, 16,6 metros de extensão e 4,2 metros de diâmetro. Para o público em volta da plataforma, entretanto, a frieza desses números pouco importava. A bordo do poderoso foguete, estava o módulo central da primeira estação espacial chinesa — mais um triunfo daqueles que, de fabricantes de quinquilharias, passaram a construir observatórios, telescópios e sondas capazes de chegar à Lua e a Marte.

Os chineses estão mesmo vivendo um caso de amor com o programa espacial de seu país. Cinco dias antes da decolagem, em 24 de abril — oficializado como o Dia do Espaço na China —, foi anunciado ao vivo o nome do rover que pousará em Marte até o fim do mês, escolhido por voto popular pela internet. O agora chamado Zhurong, que remete ao deus do fogo da mitologia asiática, fez uma longa travessia até entrar na órbita do planeta vermelho em fevereiro, poucos dias antes do Perseverance. No entanto, diferentemente do robô da Nasa, Zhurong ainda aguarda comandos da Terra para descer à superfície. Caso conclua com sucesso sua missão, ele será o primeiro jipe-robô de um país que não os Estados Unidos a realizar tal feito.

De modo a permanecer nos calcanhares dos americanos, a agência espacial chinesa anunciou que, até 2024, colocará em órbita, ao lado de sua nova estação, um telescópio que deverá fornecer amplitude do espaço sideral 300 vezes maior que a do Hubble. Curiosamente, esses anúncios sucessivos do governo de Pequim têm provocado manifestações nas redes sociais que se assemelham a despeito. A diatribe predileta é dizer que o programa espacial chinês está apenas preenchendo, tardiamente, o segundo lugar na fila de conquistas americanas. O assunto da semana: um dos está­gios do 5B, que levou o módulo da estação, estaria reentrando de forma desgovernada na atmosfera, ameaçando cair na cabeça de alguém em algum lugar. A verdade é que, mesmo que o estágio não se desintegre por completo na reentrada, a probabilidade de destroços atingirem uma pessoa no solo seria de uma em 1 trilhão.

Incólume a críticas, a China conduz seu programa espacial longe da esfera de influência da Nasa, mas cada vez mais próximo da comunidade científica internacional. No mesmo dia da decolagem do 5B, foi publicado um acordo assinado entre a agência espacial chinesa e sua correspondente russa, a Roscosmos, para a construção de uma base lunar na próxima década. Concomitantemente, o presidente Xi Jinping mantém-se na sua marcha pessoal de se aproximar do Ocidente, convidando outros países a participar não apenas das atividades da nova estação, mas também a integrar o consórcio lunar. Das palavras à ação, o governo de Jinping autorizou cientistas estrangeiros a utilizar o obser­vató­rio Tianyan, conhecido internacionalmente pelo acrônimo Fast. Concluído em 2016 e inaugurado no ano passado, ele é o maior observatório esférico do mundo.

Muitos são da opinião de que recursos destinados ao espaço deveriam ser aplicados em outras áreas — talvez ignorando os avanços em engenharia, energia e medicina que a gravidade zero pode trazer. VEJA conversou com a Agência Espacial Brasileira, que tem acordos de cooperação científica com diversos países, incluindo a China. Segundo a agência, não houve nenhum convite para integrar a nova estação ou o projeto lunar, mas ela está aberta a conversar com todos que a procurarem. Boa notícia, pois, assim como a multidão que foi a Wenchang ver o lançamento do foguete, os brasileiros torcem para que todos os bons acordos decolem.

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Ao infinito e além

Em apenas duas décadas, a China superou o programa espacial russo e colou no americano, construindo robôs e sondas que vão da Terra à Lua e a Marte

Rover Zhurong
Rover Zhurong – (CLEP/CNSA/.)

Depois de viajar 475 milhões de quilômetros durante 224 dias, o rover Zhurong tentará pousar em Marte nos próximos dias. Montado sobre seis rodas, o robô pesa 240 quilos e se locomove a 200 metros por hora. Com duas câmeras e radar de solo, ele foi programado para procurar água congelada. Ele é o primeiro rover não americano em outro mundo.

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Tianyan
Tianyan – (Li Jin/VCG/Getty Images)

Construído em cinco anos, entre 2011 e 2016, ao custo de 170 milhões de dólares, o Tianyan, também conhecido como Fast, é o maior observatório esférico do mundo, com disco radiotelescópico de 500 metros de diâmetro, capaz de captar exoplanetas, buracos negros e galáxias. Em operação desde 2020, ele foi aberto agora para pesquisadores estrangeiros.

Estação espacial Tiangong -
Estação espacial Tiangong – (Unoosa/CMSA/.)
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A estação espacial Tiangong, quando completada no fim de 2022, terá um módulo central e pelo menos dois laboratórios, com capacidade para receber três astronautas fixos e três temporários. Com 70 toneladas, ela orbitará a Terra a 400 quilômetros do solo, aproximadamente na mesma altitude da Estação Espacial Internacional, inaugurada em 2000.

Telescópio -
Telescópio – (CSST/CSNA/.)

Até 2024, a China promete entregar um telescópio capaz de vasculhar o espaço sideral com uma amplitude 300 vezes maior que a do Hubble. Com lentes de 2 metros de diâmetro e câmera de 2,5 bilhões de pixels, ele será programado para ficar em órbita sincronizada com a nova estação espacial, a fim de facilitar a manutenção pelos astronautas.

Publicado em VEJA de 12 de maio de 2021, edição nº 2737

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