Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

TSE descarta delações e absolve presidente Michel Temer

Em votação apertada por 4 votos a 3, TSE decide livrar presidente da cassação e Dilma da inelegibilidade

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 21h43 - Publicado em 9 jun 2017, 23h12

No julgamento mais importante de sua história, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu ignorar as provas colhidas nas delações dos executivos da Odebrecht, as mais contundentes do processo, e livrar o presidente Michel Temer da cassação do mandato e a ex-presidente Dilma Rousseff da inelegibilidade. Por quatro votos a três, a corte absolveu os ex-parceiros de chapa da acusação por abuso de poder político e econômico praticado durante a eleição de 2014. Reaberto na última terça-feira, o julgamento se arrastou por mais de 27 horas, chegando ao fim na noite desta sexta-feira.

Último a se pronunciar, o presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, deu o voto decisivo pela absolvição sob o argumento de que era preciso manter a “estabilidade política” do país, apesar das “deploráveis” revelações colhidas no processo. Ele afirmou que a soberania popular deveria se sobrepor à decisão dos ministros e que a corte não era local adequado para resolver crise política. “Não se substitui um presidente da República a toda hora, ainda que se queira. Cassação deve ocorrer de forma inequívoca”. Ele também lembrou que, desde a redemocratização, apenas dois presidentes eleitos terminaram definitivamente os seus mandatos — Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Já conhecido desde o início do julgamento, o voto de Gilmar Mendes foi um contraponto ao do ministro Herman Benjamin, relator do caso, que levou mais de 10 horas para expor os seus argumentos a favor da cassação de Temer. Para ele, havia provas “oceânicas, vastíssimas e incontestes” das fraudes eleitorais cometida em 2014. Na conclusão de seu pronunciamento, o ministro criticou os colegas de toga que se posicionaram contra a inclusão das delações nos autos. “Recuso o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar do velório, mas não carrego o caixão”, sentenciou. 

Acolheram o voto de Benjamin os ministros Luiz Fux e Rosa Weber. Acompanharam Gilmar os ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Admar Gonzaga, Tarcísio Vieira de Carvalho — estes dois últimos indicados por Temer para as cadeiras reservadas à classe dos advogados. Encampada pelas defesas de Dilma e Temer, a tese que no fim saiu vencedora considerava que as delações da Odebrecht e dos marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura extrapolavam o objeto inicial da ação, que se originou de quatro pedidos feitos PSDB, o partido derrotado no pleito, entre outubro de 2014 e janeiro de 2015.

Na exposição do seu voto, o ministro Luiz Fux disse que não se sentiria confortável se levasse em conta um “instrumento processual” ao invés de “não encarar a realidade”. Na sessão de ontem, declarou que a corte não poderia se comportar como um avestruz, que “enfia a cabeça no chão” alheia ao que se passa em volta.  Para ele, os agentes políticos “violaram” a soberania popular” e levaram a sociedade a viver num “pesadelo pelo descrédito das instituições, pela vergonha e pela baixa estima”.

Continua após a publicidade

O ministro Napoleão Nunes Maia, por sua vez, também fez uso de metáforas para explicar por que estava votando contra a opinião pública. Ele citou a trajetória de Pôncio Pilatos, governador da Judeia que condenou Jesus Cristo à morte atendendo à vontade popular, conforme a história bíblica. Segundo Maia, Pilatos entrou para a história como um “homem covarde e pusilâmine” que não teve estrutura mental para “enfrentar a voz do povo e afrontar a turba”.

Já o ministro Admar Gonzaga argumentou que os crimes levantados na ação eram caso de tribunal penal e não eleitoral. Também ironizou a argumentação de Benjamin de que o dinheiro ilícito contaminava o lícito, impossibilitando a separação do caixa 1 com o caixa 2. “Então, que fechem as portas de todos os partidos”, declarou. Favorável à cassação, Rosa Weber rebateu Gonzaga, afirmando que aquele era um bom momento para os siglas recomeçarem do zero a abrirem as suas contas, “comprovando a partir de então a origem lícita” dos seus recursos.

O julgamento ganhou importância nas últimas semanas por causa da delação de executivos da JBS, cujo conteúdo não integrava o conjunto probatório do processo, mas “pairava” como um fantasma sob ele, conforme definiu Benjamin. Lideranças políticas, inclusive da base aliada do governo Temer, viam no julgamento uma opção factível e até honrosa de Temer deixar a Presidência — com base na colaboração premiada de Joesley Batista, ele é formalmente investigado no Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. O terremoto JBS, no entanto, não abalou a maioria do TSE, que, com o seu veredicto, acabou dando uma sobrevida — pelo menos por enquanto — ao presidente.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.