‘Politização das Forças Armadas é maior ameaça à democracia’, diz Barroso
O presidente do STF afirmou, durante evento na Universidade de Harvard, que apesar das intenções golpistas no Brasil, 'as instituições venceram'

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, disse, neste sábado, 6, durante participação na Brazil Conference, organizada pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que a ‘politização das Forças Armadas é a maior ameaça à democracia’ na América Latina, citando exemplos em que militares foram cooptados por líderes políticos em planos autoritários em países do continente.
Ao falar sobre a situação do Brasil, Barroso lembrou de diversos acontecimentos recentes de ataques antidemocráticos, principalmente durante o governo de Jair Bolsonaro, e reiterou que “as instituições venceram”, mas que “nós ficamos por um triz do impensável”.
“Tivemos repetidas acusações de fraude eleitoral não comprovadas, tivemos a politização das Forças Armadas, o que, na América Latina, é a maior ameaça possível para a democracia. Tivemos o não reconhecimento do resultado eleitoral, tivemos um incentivo aos acampamentos na porta dos quartéis, tivemos desfile de tanques na Praça dos Três Poderes no dia de uma votação importante [sobre o voto impresso], tivemos ataques ao Supremo, ataques à imprensa e depois tivemos o 8 de Janeiro. Felizmente as instituições venceram no Brasil, mas nós ficamos por um triz, chegamos muito perto do impensável no Brasil”, salientou o ministro.
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Voto impresso
O magistrado também falou sobre a tentativa de voltar com o voto impresso nas eleições brasileiras, o que ele classificou como “o caminho da fraude” e lembrou que se “empenhou muito para impedir que voltasse o voto impresso” por entender que ali estava o “germe do golpe.
“Nós tivemos a tentativa de volta ao voto impresso. O voto impresso sempre foi o caminho da fraude no Brasil, desde o início da República. Eu me empenhei muito pessoalmente para impedir que se voltasse ao voto impresso no Brasil porque sempre tive o pressentimento que ali estava o germe do golpe. Se os extremistas tiveram a capacidade de invadir o Supremo, o Palácio do Planalto e o congresso, imaginem o que não fariam nas seções eleitorais em que imaginassem que fossem perder se nós tivessemos contagem pública manual dos votos, que era a proposta”, ponderou o presidente do STF.
Barroso abriu um dos painéis do evento na universidade norte-americana ao lado de Steven Levistky. Ele falou sobre “Democracia e Justiça no mundo contemporâneo”.