Polícia apreende bens dos pais do bebê Jonatas
Casal é suspeito de gastar indevidamente parte do dinheiro arrecadado para o tratamento do garoto, que tem síndrome rara
A Polícia Civil de Joinville cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa do casal Renato e Aline Openkoski, pais do bebê Jonatas, às 6h30 desta quinta-feira, em Joinville, Santa Catarina.
O casal é investigado sob suspeita de usar indevidamente parte do dinheiro de doações para o garoto, que sofre de uma síndrome rara.
Entre os bens apreendidos, estão um carro avaliado em 140 000 reais e uma TV de 50 polegadas avaliada em 6 000 reais, todos adquiridos depois da campanha de arrecadação. Parte dos objetos seria leiloada para arrecadar fundos.
A ação foi comandada pela delegada Georgia Marrianny Gonçalves Bastos, titular da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, e teve a participação de dez policiais. O mandado foi expedido no final da tarde de ontem pelo juiz Cesar Tessarolli, da 4ª Vara Criminal de Joinville, a pedido da delegada.
De acordo com Georgia, os policiais chegaram de surpresa na casa e, no momento da abordagem, havia dez pessoas lá. “Eles ficaram assustados e o Renato foi o que reagiu com mais agressividade, ficou batendo no peito que o dinheiro era dele, que ele não roubou nada. Precisamos até fazer uma contenção”, relata.
“Apreendemos o carro, uma moto, muito luxo da parte deles, muita documentação de gastos excessivos, alianças, relógios, nota de compras na (boutique) Colcci de 4 000 reais, perfumes, maquiagens, além de vários objetos que foram doados durante a campanha de arrecadação de recursos para serem leiloados ou rifados e nunca foram”, afirmou.
Apreendemos também uma arma de brinquedo que ele [Renato] teria usado para fazer fotos e intimidar as pessoas que estavam questionando a lisura da campanha”, afirmou a delegada, que disse ter ouvido ao menos quatro pessoas que foram ameaçadas por questionar o uso do dinheiro.
Todos os objetos apreendidos agora ficam sob a tutela da Justiça até que a investigação seja concluída. “Essa foi uma primeira etapa de apreensão de objetos de interesse da investigação, pois há indícios de que foram adquiridos por meio do dinheiro da doação”, afirmou a delegada.
Procurado pela reportagem, Openkoski não foi encontrado para comentar o caso.
O caso Jonatas
Jonatas Henrique, morador de Joinville, em Santa Catarina, é portador do tipo mais severo da patologia genética degenerativa chamada de atrofia muscular espinhal (AME). Ele foi diagnosticado no início do ano passado, quando tinha 6 meses de vida. Sua única esperança de sobreviver à doença era o medicamento Spinraza (as seis doses iniciais custavam perto de 3 milhões de reais na época (a aprovação no Brasil, tempos depois, ajudou a baixar o custo).
O menino está se tratando graças ao apoio recebido em todo o país, e no exterior, e contou com a divulgação de famosos como os atores Danielle Winits, André Gonçalves, o cantor Zezé di Camargo e a apresentadora Ana Hickmann. Em pouco mais de dois meses, a meta havia sido superada: o esforço coletivo garantiu, em vez dos 3 milhões desejados, um terço a mais — 4 milhões de reais, suficientes para custear todo o primeiro ano do tratamento de Jonatas.
Reportagem publicada em VEJA (leia aqui) mostrou como o apoio se reverteu em desconfiança e revolta depois que os pais mostraram uma mudança brusca de padrão de vida. Ele era palestrante religioso em igrejas evangélicas, enquanto ela havia interrompido os estudos de direito após a gravidez. Ao mesmo tempo em que não apresentaram comprovações das despesas que têm com o filho, mudaram-se para uma casa maior, passaram o Réveillon em Fernando de Noronha, adquiriram o Sportage avaliado em 140 000 reais, entre outros gastos exibidos nas redes sociais.
Segundo a família, o garoto tem reagido bem ao tratamento.