O que o debate deixou de tratar
Falta de propostas e alta temperatura marcam último debate, em que eleitor indeciso ficou sem saber claramente sobre projetos

Na mesma temperatura das últimas semanas, o último debate presidencial antes das eleições 2022, na noite desta sexta-fera (28), escancarou a animosidade entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT). Os temas que alimentaram a polarização entre os candidatos ganharam contornos ainda mais agressivos, em um encontro com pouco espaço para propostas.
Confira a apuração do resultado do segundo turno das eleições 2022
Os convidados de ambos, dez de cada, davam conselhos nos intervalos. Lula reagiu a sucessivos ataques de Bolsonaro, e tentava levar o confronto para números de sua gestão. Aborto, família, viagra, acusações recíprocas de corrupção dominaram todos os blocos do debate. Bolsonaro ouviu Sérgio Moro, senador eleito. Lula recebeu conselhos de Janja, sua mulher, e Gleisi Hoffman, presidente do PT.
Foram pedidos cerca de vinte direitos de resposta, que indica a temperatura das discussões. Os dois não se cumprimentaram em nenhum momento, e Bolsonaro deixou clara a estratégia de atirar em todas as perguntas. O objetivo era claro: colocar no adversário o selo de mentiroso.
A sensação para quem assistiu era de que não falavam a mesma língua. Muitas perguntas sem resposta e citações a Deus. Ao eleitor indeciso, faltou a chance de ouvir as propostas dos dois candidatos a partir de 2023.
Nas considerações finais, o presidente cometeu uma gafe: “Se Deus quiser, me dará mais um mandato como deputado federal“, disse, para depois se corrigir. Disse ainda que respeitará o resultado das urnas.
Lula lamentou a “falta de oportunidade de discutir programa de governo”. Bolsonaro avaliou que teve oportunidade e liberdade de falar verdades sobre o adversário.