“O Aécio é bandidão”, diz Joesley
Delatores negociam divisão de tarefas: "Vamos pegar o Aécio também. Ele vai ficar chateado", disse Saud
Em um dos trechos da gravação que encaminharam na última quinta-feira à Procuradoria-Geral da República, os delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud discutem reservadamente quais autoridades deveriam ser gravadas por eles para compor o acervo do acordo de delação premiada que negociavam com o Ministério Público Federal. Na divisão de tarefas, Saud teria ficado com a incumbência de gravar o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, enquanto a Joesley cabia registrar em áudio conversas com o presidente Michel Temer, o que efetivamente foi feito. “Então vai ser o cerco no Zé e eu com o Temer”, resumiu Joesley.
Na discussão sobre quais autoridades estariam na mira dos delatores, os dois afirmam ter informações que comprometem o senador tucano Aécio Neves (MG). “Vamos pegar o Aécio também. Ele vai ficar chateado”, diz Saud.
Embora Joesley considere Aécio um político de importância menor diante de alvos como Michel Temer, o empresário dono da JBS se justifica: “Ele ficou pequenininho… (risos). Não, nós vamos, só porque ele é bandidão mesmo. Você sabe que esse aqui, os outros vai ficar pequenininho, pequenas causas, não vai precisar”.
Ao longo das investigações, o Ministério Público afirmou que a jornalista Andrea Neves, irmã de Aécio, pediu 40 milhões de reais ao empresário Joesley Batista. A justificativa dada por Andrea, disse o delator, era de que o dinheiro correspondia ao valor que deveria ser pago pelo apartamento da mãe, no Rio de Janeiro. A transação para o futuro repasse de dinheiro envolveu também Aécio, que, conforme depoimentos da delação de Joesley Batista, teria afirmado que, no caso de emplacar Aldemir Bendine na presidência da companhia Vale, o próprio Bendine “resolveria o problema dos 40 milhões pedidos por Andrea Neves”. Aécio disse, na sequência, que já tinha indicado outra pessoa e depois ofereceu a Joesley a escolha de uma de quatro diretorias da Vale. Depois o senador pediu que o empresário esquecesse o assunto dos 40 milhões de reais.
Aldemir Bendine foi presidente do Banco do Brasil e da Petrobras e hoje está preso em Curitiba no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo os delatores Marcelo Odebrecht e Fernando Santos Reis, entre 2014 e 2015 o ex-presidente do BB e da Petrobras pediu “vantagem indevida” para atuar em nome dos interesses da Odebrecht Ambiental. Em outra ocasião, delatores detalharam que o dinheiro que deveria ser pago seria equivalente a 1% da dívida alongada da Odebrecht Ambiental perante o Banco do Brasil e serviria para “permitir” a renegociação de um débito da empresa junto à instituição financeira.
Na delação de Joesley Batista, o empresário se declarou como “o maior doador de Aécio Neves” e afirmou que doou caixa dois para a campanha do tucano. Ele revelou ainda que, mesmo depois da campanha, vendeu um imóvel superfaturado por 17 milhões de reais a uma pessoa indicada por Aécio para que, na transação, o dinheiro pudesse chegar ao tucano. Ao Ministério Público, o dono da JBS também detalhou, no acordo de delação premiada já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o apetite de Aécio Neves ao pedir recursos. Ele relatou que em 2016, o senador pediu 5 milhões de reais extras, mas Joesley disse não ter dado o dinheiro.
Também em depoimento de delação, o diretor de Relações Institucionais da holding J&F Ricardo Saud afirmou que o grupo JBS “comprou” dívidas de Aécio Neves com terceiros. Embora o tucano tenha recebido cerca de 80 milhões de reais para a campanha, “ele continuou pedindo mais dinheiro”.
Defesa
Em nota, o advogado Alberto Zacharias Toron, que defende Aécio, disse que as palavras dos delatores da JBS “não merecem qualquer crédito”. “As gravações que chegaram ao conhecimento público recentemente escancaram que Joesley Batista e outros delatores criaram e induziram conversas com diversos políticos e autoridades com o objetivo de obterem fantásticos benefícios de uma delação premiada. As palavras dos delatores, comprova- se mais uma vez, não merecem qualquer crédito.”
Toron reafirmou o que o senador já havia dito anteriormente para justificar a conversa gravada na qual ele negocia com Joesley o repasse de 2 milhões de reais. “Como já esclarecido anteriormente, o empréstimo de 2 milhões de reais oferecido pelo dono da JBS foi uma resposta à proposta de venda de um apartamento da família do senador Aécio Neves . Inclusive, no recente laudo pericial juntado ao processo, contendo a íntegra da transcrição da conversa, fica claro que senador tentava vender bens de família para arcar com custos de advogados”, disse.
O advogado afirmou ainda que “todas as doações eleitorais feitas por empresas a campanhas do senador Aécio foram declaradas na Justiça Eleitoral, nunca tendo havido qualquer tipo de favorecimento à empresa JBS, como os próprios delatores confessam”.
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