Nas disputas pelas chefias do Congresso, tendência é por continuidade
No cardápio de acomodações em que todos saem ganhando, se especula que Pacheco e Lira serão agraciados com um ministério

Fiel aliado de Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi a primeira autoridade a reconhecer a vitória de Lula em 2022. Era, naquele momento, um sinal de que a relação entre o governo e o Congresso, se não fosse das mais afinadas, seria no mínimo pacífica. E assim foi. Dois anos e alguns trancos depois, o balanço pode ser considerado positivo para os dois lados. Lula chegou à metade do mandato com suas principais agendas aprovadas, principalmente as econômicas, e os parlamentares continuaram com a prerrogativa de enviar às suas bases eleitorais 50 bilhões de reais do Orçamento federal, apesar de toda a polêmica sobre a transparência na destinação dos recursos. Essa bolada ampliou a influência política e eleitoral dos congressistas — e, ao que tudo indica, nada deve mudar. Em janeiro do ano que vem termina o mandato de Lira. Nos últimos meses, o deputado alagoano trabalhou pessoalmente para fazer o sucessor, conseguiu uma rara convergência de interesses ao colocar petistas e bolsonaristas no mesmo lado e encerra 2024 com uma relativa tranquilidade para eleger ao cargo seu pupilo Hugo Motta (Republicanos-PB).
No Senado, a bússola também aponta para a continuidade. Se nada mudar, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) substituirá Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no comando da Casa. O parlamentar já esteve à frente do Congresso entre 2019 e 2021, comportou-se como um presidente virtual na gestão do senador mineiro, seu aliado de primeira hora, manteve dois ministros de sua cota pessoal no governo Lula e agora pavimenta seu retorno, inclusive já pensando na reeleição em 2027. Para concretizar o ambicioso projeto, Alcolumbre tem negociado com os colegas algumas demandas. Com os governistas, se comprometeu a evitar pautas que provoquem desgastes ao Palácio do Planalto. Para a oposição, disse que não vai se opor ao avanço dos projetos que tratam da anistia tanto aos vândalos do 8 de Janeiro como ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Conciliar todas essas tarefas exigirá mais do que habilidade. Para fechar esse cardápio de acomodações em que todos saem ganhando, ainda se especula que Pacheco e Lira serão agraciados com um ministério — uma forma de ambos continuarem na vitrine do poder.
Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2024, edição nº 2924