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Gilberto Kassab: “Não serei um supersecretário de Governo”

Em entrevista concedida a VEJA, o ex-prefeito fala sobre como será sua atuação no governo paulista

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h07 - Publicado em 4 dez 2022, 08h00

Apesar de ser um político experiente, que já costurou diversas alianças, Gilberto Kassab fica incomodado quando é questionado sobre qual é a receita para conseguir embarcar em duas canoas politicamente antagônicas, como as que são capitaneadas por Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao mesmo tempo que o senhor será secretário de Governo e homem forte da gestão do bolsonarista Tarcísio de Freitas, o seu PSD negocia cargos no governo Lula. Como é colocar um pé em cada canoa? Não estou com os pés em duas canoas e não negocio cargos com Lula. Isso não existe, é desleal fazer essa afirmação. Nosso representante no conselho político do futuro governo federal será o deputado Antonio Brito, que é da Bahia e apoiou Lula. Se houver discussão de cargos, será diretamente com Brito, não com Kassab.

Mas o senhor é o presidente nacional do partido, não dá na mesma? O PSD ficou neutro nessas eleições, diferentemente de 2018, quando apoiamos Geraldo Alckmin para presidente. Perdemos aquela disputa e ficamos quatro anos neutros, em posição de independência. É público que agora houve estados em que o partido apoiou o presidente Bolsonaro, como em São Paulo e no Paraná. Da mesma forma também é público que, em outros, houve apoio ao Lula, como na Bahia, com Otto Alencar.

O senhor não vai apoiar o governo Lula? Os meus projetos são ajudar o Tarcísio de Freitas e fazer do PSD um partido de centro-direita. Uma legenda que possa efetivamente dar apoio ao governador, que, tenho plena convicção, será um dos melhores da história de São Paulo. Nesse momento cada um faz as suas escolhas. A minha é estar ao lado do governador Tarcísio.

Então acabou a história de que o PSD não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro? Isso é outra bobagem. Foi numa entrevista que eu dei, no início da formação do partido, quando me perguntaram se seríamos de centro, esquerda ou direita. Eu falei que não poderia falar ainda, pois a legenda estava em formação, que estava discutindo com as lideranças que estavam chegando e que, portanto não sabia se ela seria de direita, centro-esquerda, direita. Falei que, se dependesse de mim, seria de centro. Com o tempo, fui percebendo que a cara do partido é mais de centro-direita do que de centro.

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Qual é o impacto das manifestações bolsonaristas contra o resultado da eleição? Com as redes sociais, essas mobilizações serão cada vez mais intensas, é muito mais fácil organi­zá-las. E elas só vão diminuir se o novo governo começar a acertar. Se Lula inicia o mandato errando, as insatisfações vão continuar e poderão até aumentar. Os protestos estão com uma dimensão bastante pequena, e acredito que não cresçam. Espero que a maioria da população continue como está. Na democracia há vencidos e vencedores. Temos de compreender a decepção deles (bolsonaristas), mas a democracia é o melhor sistema do mundo, apesar dos seus defeitos. Não existe um segundo sistema ideal.

Quais foram os maiores acertos e erros de Bolsonaro? Um dos acertos foi a escolha de Tarcísio de Freitas como candidato a governador de São Paulo. E o Tarcísio soube avançar para o centro. Ele foi lançado pela direita, pelo bolsonarismo, mas conseguiu seguir para o centro.

E o maior erro? A comunicação. Bolsonaro errou muito no caso da pandemia e das urnas eletrônicas.

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Em troca do apoio a Lula, o PSD terá um ou mais ministérios, além do aval do PT para a reeleição de Rodrigo Pacheco à presidência do Senado? Qualquer entendimento no plano nacional sempre passará por um compromisso de apoio à recondução de Rodrigo. Seja com Lula, fosse com Bolsonaro, com outras bancadas, esse interesse do partido é uma prioridade.

Acha que é necessário haver uma reforma política? Enquanto houver coligação no Brasil, será essa salada de frutas. Felizmente, caminhamos para o fim das coligações proporcionais. Isso tornou mais saudável o processo. Agora, precisamos caminhar para proibir as coligações majoritárias. Você tem um partido e eu tenho outro. Se na eleição eu tenho de apoiar o seu candidato, então por que eu existo? Precisa proibir, assim como proibiu coligação para vereador e deputado. Agora tem de proibir para prefeito, governador, presidente.

Bolsonaristas e outros aliados acham que o senhor quer tomar conta do governo. Como avalia isso? Eu não me preocupo. Tenho orgulho do meu apoio ao Tarcísio. E todos que vieram apoiar foram muito bem-vin­dos. Foi uma escolha acertada do PSD. Elegemos o melhor governador para São Paulo e, portanto, a partir de agora temos de dar a ele as condições para estruturar a melhor equipe possível. E, como o Tarcísio sempre diz — e acho correto —, ele irá compor a equipe por critérios técnicos.

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Concorda ao menos que o senhor será um supersecretário de São Paulo? Isso vem de fogo amigo, de pessoas que querem fazer intriga. É uma grande bobagem. Não tenho o objetivo de ser mais do que ninguém. Não serei um supersecretário. Supersecretário será o Tarcísio.

Publicado em VEJA de 7 de dezembro de 2022, edição nº 2818

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