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MPF recupera só 10% de propina paga por Eike a Cabral

O empresário repassou 16,5 milhões de dólares ao ex-governador do Rio de Janeiro por meio de ações

Por Da redação
28 jan 2017, 10h55

Dos 16,5 milhões de dólares pagos como propina pelo empresário Eike Batista ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), conforme apontam investigações da Operação Eficiência, apenas um décimo foi recuperado. Os valores foram repassados em ações da Vale, da Petrobras e da Ambev e, ao liquidar os papéis, somente 1,6 milhão de dólar (5,4 milhões de reais) foi arrecadado pelo Ministério Público Federal.

O montante é 10% do valor investido nos papéis e uma parcela pequena dos cerca de 270 milhões de reais repatriados até agora pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

“Por opção de Cabral, os 16,5 milhões de dólares foram investidos em ações. O que se conseguiu recuperar dessa conta da(empresa Arcadia no (banco) Winterbotham é um valor muito pequeno porque boa parte do que foi aplicado nas ações evaporou”, disse o procurador da República Sérgio Pinel. Ele afirmou que no fim do ano passado a força-tarefa solicitou a liquidação dos papéis restantes na conta e a repatriação do valor correspondente.

Segundo os procuradores, a empresa Arcadia Associados, de Renato Chebar, foi usada para dar aparência de legalidade ao repasse de Eike. Operadores do mercado financeiro, Chebar e seu irmão, Marcelo, procuraram o MPF após a Operação Calicute e assinaram um acordo de delação premiada que embasou a Operação Eficiência. Deflagrada anteontem, ela apura a ocultação e lavagem de mais de 100 milhões de dólares (340 milhões reais) no exterior pelo grupo de Cabral.

As investigações apontam que a Arcadia Associados mascarou o repasse a Cabral firmando um contrato de fachada com a Centennial Asset Mining Fund LLC, holding de Eike. Pelo contrato, a Arcadia prestou assessoria à Centennial na compra do controle da mineradora canadense Ventana Gold. Eike fechou o negócio por 1,5 bilhão de dólares. A Ventana detém minas de ouro na Colômbia. A consultoria da Arcadia, porém, jamais ocorreu.

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Segundo Renato Chebar, Cabral pediu, num encontro em Nova York, em 2011, que a conta Golden Rock comprasse ações da Petrobras para concretizar a operação. O operador recomendou que também fossem compradas ações da Vale e da Ambev.

A Centennial fez o pagamento por meio da conta Golden Rock, no TAG Bank, sediado no Panamá. A ideia inicial da “engenharia financeira” era que a Arcadia abrisse uma conta no mesmo banco, o que não foi possível. Assim, a empresa recebeu os valores numa conta do banco Winterbotham, no Uruguai.

Os colaboradores não informaram em nome de quem as ações foram compradas. Segundo especialistas, esse montante poderia estar em nome de um terceiro ou até de um “trust”.

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Chamado de “obscuro” em petição do MPF, o TAG Bank é controlado por Eduardo Plass, que teve mandado de condução coercitiva decretado, mas ainda não prestou depoimento porque mora em Londres. Plass é engenheiro e trabalhou na Camargo Corrêa nos anos 1980, mas construiu a maior parte da carreira no Banco Pactual, onde ingressou em 1987 e chegou a presidir entre 1997 e 2003.

Advogado

O advogado de Eike, Fernando Martins, esteve ontem na Superintendência da Polícia Federal no Rio e no Ministério Público Federal. Ao delegado Tácio Muzzi, responsável na PF pelas investigações, o defensor reafirmou a disposição de seu cliente de se entregar à Justiça. Mas não foram revelados detalhes sobre uma eventual apresentação de Eike. Ele teve a prisão decretada no dia 13 de janeiro, mas o mandado só foi “para a rua” anteontem, quando foi deflagrada a Operação Eficiência. Na terça, o empresário embarcou para Nova York. Desde então, não há informações a seu respeito.

O MPF afirmou oficialmente que “não há esse canal com a defesa” do empresário por ora e negou que Martins tenha se reunido com procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio.

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(Com Estadão Conteúdo)

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