MPF denuncia Geddel por tentar obstruir delação de Lúcio Funaro
Acuado, Geddel passou a telefonar para a esposa de Funaro e sondar sobre possibilidade de delação
O Ministério Público Federal (MPF) apresentou à Justiça denúncia contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que comandava a Secretaria de Governo de Michel Temer. Ele é acusado de tentar barrar as negociações para a delação premiada do operador financeiro Lúcio Funaro.
Funaro é considerado um homem-bomba para políticos do PMDB por conhecer como poucos a engrenagem da organização criminosa que atuava em esquemas ilícitos no banco Caixa Econômica. Ele tenta fechar um acordo de delação que promete detalhar a sua atuação como operador financeiro de um grupo de políticos peemedebistas, que tem como expoentes o presidente Michel Temer e os ex-presidentes da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. Funaro intermediava interesses de empresas dispostas a pagar propinas para integrantes do partido em troca de contratos públicos.
De acordo com o MPF, Geddel, que sabia do poder de fogo de Funaro, atuou deliberadamente para dificultar e atrasar as investigações de crimes praticados por empresários, empregados públicos com ingerência na Caixa, agentes políticos e operadores financeiros. A principal estratégia de Geddel para travar as investigações, segundo o Ministério Público, foi atuar para constranger Funaro e impedir que ele fechasse um acordo de delação.
Embora não tivesse proximidade com a esposa de Funaro, Raquel Pitta, Geddel passou a telefonar recorrentemente para ela, sondando sobre a disposição do operador de revelar o que sabe às autoridades. De 1º de junho de 2016, data de prisão de Funaro, até 3 de julho de 2017, quando o próprio Geddel foi detido por ordem da Justiça, as sondagens do ex-ministro foram frequentes. De maio a junho deste ano, foram dezessete contatos telefônicos em dezenove dias.
“Após a prisão [de Funaro], Raquel passou a receber insistentes ligações do denunciado, que trouxe incômodos aos envolvidos (no caso, Raquel Pitta e Lúcio Funaro) e, principalmente, o sentimento de que Geddel Quadros Vieira Lima estava monitorando-os, buscando não só saber o ânimo de Lúcio Funaro em colaborar com as investigações como também incutir a ideia de que qualquer desvio de lealdade poderia gerar consequências ao custodiado e a sua família”, disse o Ministério Público na denúncia.
Para Funaro, a ofensiva de Geddel demonstrava que ele podia causar retaliações a si e a sua família, seja por avaliar que o ex-ministro tinha grande influência no governo Temer ou por ele ser “amigo íntimo” do atual presidente. “Embora possuísse uma amizade com Geddel Vieira Lima, e não houvesse manifestações expressas de uso de violência por parte dele ou de outra pessoa, essas ligações insistentes por parte de Geddel, provocava no declarante [Funaro] um sentimento de receio sobre algum tipo de retaliação caso viesse a fazer algum acordo de colaboração premiada, tendo em vista que Geddel era membro do 1º escalão do governo e amigo íntimo do presidente Michel Temer, e considerava possível que Geddel ou outros ligados a ele pudesse, exercer influências políticas sobre algum órgão ou até mesmo o Poder Judiciário, a fim de prejudicar o declarante, no caso de resolver firmar acordo de colaboração premiada”, diz trecho do depoimento de Lúcio Funaro às autoridades.
O depoimento de Funaro também deverá ser utilizado na segunda denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, prepara contra o presidente Michel Temer. Em sua proposta de delação premiada, o doleiro reconhece que o presidente deu o aval para o empresário Joesley Batista, dono da JBS, comprar o seu silêncio. A Polícia Federal registrou em vídeo o momento em que a irmã de Funaro recebia uma mala de dinheiro entregue por um executivo da maior processadora de proteína do mundo. Por essa razão, segundo investigadores da Operação Lava Jato, Temer também deverá ser apontado como peça central de um complô armado para evitar que Funaro se tornasse um colaborador da Justiça. Para reforçar essa denúncia, Janot deverá mostrar que o presidente faz parte de uma quadrilha formada por integrantes do PMDB, da qual fazia parte, por exemplo, Geddel Vieira Lima – que continua utilizando de sua influência política para arrecadar propinas a partir de contratos públicos.