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Morre em SP o ex-governador Orestes Quércia, 72 anos

Peemedebista sofria de câncer de próstata e abandonou as últimas eleições

Por Da Redação
Atualizado em 5 jun 2024, 11h55 - Publicado em 24 dez 2010, 08h32

Empresário do ramo do café e das telecomunicações – e alvo de várias suspeitas graves de corrupção -, Orestes Quércia acumulou fortuna durante sua carreira pública e de administrador privado. À Justiça Eleitoral, declarou possuir patrimônio avaliado em 117,479 milhões de reais, entre empresas e propriedades

O ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP), figura controversa e influente de um dos principais partidos políticos do país, morreu na manhã desta sexta-feira, em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês desde o dia 18 de novembro para tratar um câncer de próstata. Quércia tinha 72 anos. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, a morte ocorreu em decorrência de complicações causadas pela doença, que foi detectada no mês de setembro deste ano. Durante o período eleitoral, Quércia passou 36 dias internado. Ele será velado no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo.

Ao longo de toda a internação, a pedido da família de Quércia, não foram divulgados boletins médicos sobre o estado de saúde do político. Segundo informações do hospital, o câncer que causou a morte de Quércia é uma recidiva de um tumor que o político já havia tratado há mais de dez anos. No início do tratamento, em setembro, Quércia chegou a afirmar em entrevistas que a doença havia sido descoberta precocemente. Quércia desistiu de concorrer ao Senado nas eleições deste ano por causa da doença. Ele era candidato pela coligação de Geraldo Alckmin (PSDB). Com a saída de Quércia, o governador eleito passou a apoiar o tucano Aloysio Nunes, que foi eleito.

Trajetória – Jornalista, advogado e administrador de empresas por formação, Orestes Quércia nasceu em Pedregulho, interior de São Paulo, em agosto de 1938, e começou sua carreira pública em 1962, quando foi eleito vereador em Campinas pelo Partido Libertador. Com a instauração do regime militar em 1964, Quércia se filiou ao MDB – o único partido de oposição aceito no período da ditadura. Pelo MDB, ele foi eleito deputado estadual em 1966 e prefeito de Campinas em 1968.

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Quércia foi o grande responsável pela expansão do MDB em São Paulo, ao mesmo tempo em que se posicionava como crítico parcimonioso da ditadura militar, sobretudo a do general Ernesto Geisel. Em 1977, diante de acusações de corrupção na prefeitura de Campinas, houve rumores de que Quércia poderia ser cassado pelo AI-5 – fato que não se consumou devido à ausência de provas. Nos anos 80, com a volta do pluripartidarismo, Quércia foi um dos fundadores do PMDB e presidiu o partido entre 1991 e 1993, quando renunciou à presidência devido a uma década de sucessivas denúncias de corrupção.

Foi também responsável pela expansão do PMDB no interior, criando trezentos diretórios municipais do partido. Em 1982 foi eleito vice-governador de São Paulo durante a eleição do governador Franco Montoro. Em 1986, conseguiu ser eleito para o governo de São Paulo – cargo que ocupou até 1991. Polêmico, arrumava brigas por criticar publicamente políticos peemedebistas ligados ao governo. Também quis impedir a então nomeação do deputado federal Mário Covas para disputar a prefeitura de São Paulo em 1983 e a eleição do senador Fernando Henrique Cardoso à presidência do diretório estadual do PMDB naquele mesmo ano.

Divisão – Além das brigas políticas em São Paulo, as denúncias de corrupção criaram um racha dentro do PMDB – sobretudo nas lideranças paulistas. Os políticos contrários a Quércia, como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Serra, entre muitos outros, abandonaram o PMDB para fundar, no final dos anos 1980, o PSDB. Sob o comando de Quércia, o PMDB paulista (sobretudo na capital) sempre se opôs ao PSDB. Em 2002, Quércia apoiou o então pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva, após declarações de Lula sobre a inexistência de provas sobre corrupção nos antigos mandatos do político.

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A aliança não durou muito devido à insatisfação de Quércia com o espaço dado ao PMDB paulista no governo. Assim, em 2008, o político rompeu com o presidente Lula e passou a liderar a oposição do PMDB em São Paulo, apoiando José Serra. Tal aliança causou surpresa, pois reuniu em um mesmo palanque duas décadas de brigas políticas. Empresário do ramo do café e das telecomunicações, Quércia acumulou fortuna durante sua carreira pública e de administrador privado. Em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral em 2010, o empresário declarou possuir patrimônio avaliado em 117,479 milhões de reais, entre empresas, propriedades imobiliárias e rurais.

Leia no blog do Reinaldo Azevedo:

O homem que teve um papel sem dúvida importante no processo de redemocratização – não se conhece um só flerte seu com teses autoritárias – deixou, no entanto, um passivo ético considerável. O que a história e suas ironias nos mostram? Morreu na manhã deste 24 de dezembro de 2010 um amador nas artes em que o PT se tornou especialista juramentado – e, nesse particular, nem um nem outro merecem perdão. Quércia, ao menos, nunca flertou com teses autoritárias. O mesmo não se pode dizer sobre os petistas.

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