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Moraes pediu ao Exército lista de todos que visitaram Mauro Cid na prisão

Ministro considerou que havia uma 'excessiva quantidade' de pessoas se encontrando com o tenente-coronel - foram pelo menos 70 desde a detenção

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h27 - Publicado em 23 jun 2023, 06h00

O tenente-coronel Mauro Cid é considerado um arquivo dos segredos, conversas privadas e articulações políticas de Jair Bolsonaro, de quem foi ajudante de ordens durante quatro anos no Palácio do Planalto. Em razão da proximidade com o ex-­presidente, que diz estimar o militar como um filho, Mauro Cid se tornou peça central nas investigações destinadas a descobrir se o país esteve mesmo à beira de uma ruptura institucional, que seria realizada para impedir a posse de Lula e garantir a permanência de Bolsonaro no poder. Apesar das evidências, como a pregação contra as urnas eletrônicas e os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, o capitão sempre rechaçou qualquer envolvimento dele e de seu entorno mais próximo em planos golpistas. Essa tese, no entanto, está cada vez mais em xeque. Em sua última edição, VEJA mostrou que uma varredura realizada pela Polícia Federal num celular de Mauro Cid encontrou documentos, estudos e até um detalhado roteiro que previa a anulação das eleições, o afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a decretação de uma intervenção militar. Tudo com o objetivo de manter Bolsonaro no comando do país.

A repercussão foi imediata. Ciente de que o caso pode complicar ainda mais a sua delicada situação jurídica, o ex-presidente divulgou uma nota, assinada por seus advogados, alegando que os achados da PF deixam claro que ele “jamais participou de qualquer conversa sobre um suposto golpe de Estado”. De fato, não foram encontradas até agora conversas de Bolsonaro com Mauro Cid, que, numa troca de mensagens, afirma a um colega militar que o então presidente só não agiu como eles esperavam porque não confiava no Alto-Comando do Exército. Por enquanto, as evidências se concentram no ex-ajudante de ordens, que sofreu um novo revés no Supremo Tribunal Federal. Na última segunda-feira, 19, o ministro Alexandre de Moraes, responsável por investigações múltiplas sobre Bolsonaro e Mauro Cid no STF, impôs novas sanções ao tenente-coronel, que está preso desde maio acusado de fraudar cartões de vacinação. Em sua decisão, Moraes limitou as visitas ao militar, encarcerado em uma cela especial dentro de um batalhão do Exército em Brasília, e determinou que só podem visitá-lo a mulher, os filhos e o advogado. Todas as outras pessoas terão de pedir uma autorização prévia ao ministro, que passará a controlar o entra e sai do quartel.

CERCO - Lorena Cid (à dir.): o general precisou pedir autorização para ver o filho
CERCO - Lorena Cid (à dir.): o general precisou pedir autorização para ver o filho (Roberto Oliveira/Alesp/.)

Antes, as normas sobre visitas eram estabelecidas pelo próprio Exército e previam que cabia ao comandante do batalhão liberar a entrada. A mudança chamou atenção pelo fato de que até os pais de Cid, que o visitam com frequência, seriam obrigados a pedir autorização de Moraes para se encontrarem com o filho. A medida movimentou a Alta Cúpula do Exército, que negociou com Moraes e conseguiu a liberação de visitas para a mãe de Cid e também o pai dele, o general Mauro Lorena Cid, que foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras na década de 1970. Dias antes de tomar sua decisão, Moraes pediu a lista de todos os visitantes. Com as informações em mãos, o ministro decidiu alterar o formato por considerar que havia uma “excessiva quantidade” de pessoas se encontrando com o tenente-coronel. Foram pelo menos setenta visitantes desde a prisão de Mauro Cid. Entre eles, familiares, militares de alta patente, colegas de turma e pessoas próximas a Jair Bolsonaro, como o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e o ex-vice-pre­sidente e agora senador Hamilton Mourão. O Exército garante que ninguém entrou sem se identificar.

À exceção da defesa, cujo acesso pode ser diário, as visitas a Cid são permitidas ao longo de três dias da semana, terças, quintas e domingos, das 13h às 17h. A rotina do militar ainda compreende um banho de sol de duas horas, período usado para musculação e corrida, e encontros com um psicólogo e um líder evangélico todas as quartas-feiras. A cela tem 20 metros quadrados e abriga cama, frigobar, televisão, armário, mesa e banheiro. É lá que ele faz as quatro refeições diárias. Pessoas que visitaram Cid afirmam que ele está constantemente usando farda e não deu sinais de que pretende delatar ou incriminar o antigo chefe. Enquanto torce para que a situação do ex-presidente se complique ainda mais, o governo Lula age para punir militares envolvidos em aspirações golpistas e, ao mesmo tempo, evitar uma crise com as Forças Armadas.

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INVESTIGADO - Lawand: coronel que pregava golpe perdeu posto no exterior
INVESTIGADO – Lawand: coronel que pregava golpe perdeu posto no exterior (./.)

No dia seguinte às revelações de VEJA, o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante do Exército, general Tomás Paiva, se reuniram com Lula. No encontro, os dois comunicaram ao presidente que o coronel Jean Lawand Júnior, que suplicou a Cid para convencer Bolsonaro a dar um golpe de Estado, não assumiria mais uma representação militar em Washing­ton, nos Estados Unidos, para a qual foi indicado em fevereiro. Eles também convenceram o presidente de que qualquer punição mais severa a militares, como a expulsão da corporação, dependerá das apurações em curso no Supremo e terá de respeitar o devido processo legal. O petista concordou. Apesar da sede de vingança, Lula sabe que não vale a pena bater de frente com a corporação, que, apesar de sua postura legalista, não morre de amores por ele.

Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847

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