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Moradores estavam preparados para rompimento, mas sirene não tocou

Habitantes de Córrego do Feijão, em Brumadinho, relatam a VEJA que sabiam de risco, mas que alarme sonoro era a referência para planos de fuga

Por Guilherme Venaglia, de Brumadinho (MG)
27 jan 2019, 16h57

O roteiro já havia sido ensaiado e estava na ponta da língua dos moradores do Córrego do Feijão, distrito na área rural de Brumadinho (MG): ao menor sinal de rompimento da barragem da mina que leva o nome do bairro, um sistema de sirene soaria e todos saberiam que seria a hora de deixar a casa rumo aos pontos mais altos do bairro, uma praça e uma quadra de esportes.

O problema é que, segundo relato unânime de moradores do bairro ouvidos por VEJA nos últimos dois dias, a sirene não tocou e os locais foram sabendo do ocorrido conforme o pânico se instalava na região. Com 11 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro a caminho, cada segundo ganho teria sido ouro.

“A Vale fez o treinamento com todo mundo, mas não adiantou nada, porque a sirene não tocou. Só fiquei sabendo que precisava correr porque eu ouvi meus vizinhos gritando e o barulho”, diz a doméstica Sirlei Muniz, de 54 anos. Ela está em agonia desde a sexta-feira: seu marido, que faz limpeza de vagões para a Vale, está desaparecido. “Na mineradora também era assim. Ele me disse que tinha um ponto que eles iriam lá para se proteger, mas se não tocou aqui, não tocou lá”.

O sítio onde trabalha o cargueiro Wilson Martins, de 70 anos, teve plantações atingidas pela lama. Ele estava em horário de almoço e ia retornar à plantação quando seu filho, que trabalha com ele, entrou em contato por telefone e o impediu de voltar. A sirene, como Wilson esperava, nada. O cargueiro ainda conseguiu levar a esposa, de cadeira de rodas, até o ponto de encontro. “Foi Deus que me deu forças para empurrar ela”, disse.

Agoniada pelo desaparecimento da filha Christina de Paula Araújo, que trabalhava como faxineira na pousada que foi soterrada, Alzira de Paula Maia, de 64 anos, acredita que o sinal poderia ter salvo a filha. “Eu não pude ir na simulação, mas sabia que tinha um risco de estourar e que se tivesse qualquer barulho era para correr para a praça e para a quadra. Se as pessoas que estavam lá tivessem ouvido, quem sabe não teriam conseguido correr até aqui”, diz.

Procurada por VEJA, a Vale confirma ter feito uma simulação de emergência com os moradores, que incluía sirene e pontos de encontro, em junho de 2018. Questionada sobre os múltiplos relatos a respeito do aviso sonoro, a Vale não se manifestou até a publicação desta nota.

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