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“Meu nome é Martha Rocha, não Queiroz”, diz candidata do Rio a Bolsonaro

Adversária política pedestista concorre à Prefeitura do Rio e foi mencionada pelo presidente durante transmissão ao vivo na noite de ontem

Por Marina Lang Atualizado em 30 out 2020, 20h42 - Publicado em 30 out 2020, 12h24

Alfinetada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em live na noite de ontem, a candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro Martha Rocha (PDT) ironizou a menção e rebateu o mandatário na sabatina VEJA E VOTE durante a manhã desta sexta-feira (30).

A entrevista foi conduzida pelos colunistas Dora Kramer e Ricardo Rangel e pelo repórter Ricardo Ferraz.

Na transmissão ao vivo da noite de ontem, o presidente apoiou o candidato à reeleição, Marcelo Crivella (Republicanos) e falou da postulante pedetista sem mencionar o seu nome. “Um lá, que é de um partido X, o tal do Ciro Gomes falou que, se ela ganhar, vai ser o chefe da Casa Civil dela. Terrível, né”, lamentou Bolsonaro, aludindo à Martha Rocha, que está tecnicamente empatada com Crivella, de acordo com as últimas pesquisas.

VEJA revelou com exclusividade na semana passada que Ciro Gomes estaria sendo cotado para a pasta.

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Questionada por Dora Kramer sobre ter entrado no radar de Bolsonaro, a candidata respondeu: “Queria só dizer para ele que meu nome é Martha. Martha Rocha. E que o meu sobrenome não é Queiroz. Eu não sou ‘essa aí’. A gente tem um nome, uma trajetória da qual a gente se orgulha muito”, disparou a pedetista, fazendo menção ao assessor Fabrício Queiroz, amigo pessoal do presidente.

Subtenente reformado da PM fluminense, Queiroz é apontado pelas investigações do Ministério Público do Rio como operador de um suposto esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro quando este era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Os investigadores dizem que Queiroz ficava com parte dos salários dos assessores de Flávio no gabinete. Ele está em regime de prisão domiciliar determinado pela Justiça.

Em seguida, Martha Rocha fez um desabafo: “tenho muita dificuldade de lidar com as pessoas fazendo questão de fazer fake news, fazendo questão de ter conduta misógina, fazendo questão de desqualificar. Eu não tenho muita facilidade de fazer de conta que isso não aconteceu”.

Combate às milícias

Martha Rocha é ex-delegada e foi chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro (2011-2014) durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Ela deixou o cargo para assumir a carreira política, iniciada como deputada estadual na Alerj.

Na semana passada, reportagem especial de VEJA revelou que as milícias da Zona Oeste tinham um plano para assassiná-la durante as eleições.

“Em 2007 exerci o cargo de titular da delegacia da Praça Seca. E foi exatamente investigando casos de morte praticados pelo milícia que eu recebi a minha primeira ameaça de morte. Naquele momento, uma das pessoas investigadas era um vereador eleito da cidade do Rio de Janeiro”, disse, acrescentando que deixou o cargo de chefe da Polícia Civil com mais de uma dezena de ameaças de morte.

Segundo ela, a prefeitura pode fazer muito pelo combate às milícias. A candidata defendeu a formação de um Gabinete de Gestão Integrada, que seria uma espécie de coalizão das forças de segurança composta por membros da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Polícia Federal e do Ministério Público. Essa nova pasta seria responsável pela articulação da Prefeitura do Rio com os demais poderes.

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“Há uma movimentação das milícias e uma modernização das suas atividades criminosas. Não estamos falando mais daquele início de milícia que protegia o território para evitar a chegada do tráfico. Não estamos mais falando de transporte alternativo, nem de cobrança de kit gás. Estamos falando aqui de umas milícia empreendedora, que se traduziu, por exemplo, no bairro da Muzema, em que mais de 20 pessoas morreram [no desabamento de dois prédios, em abril do ano passado]. É inadmissível que a Prefeitura não tenha assistido aquela construção”, criticou.

“Nós podemos ter um gabinete de gestão integrada para articular a questão com os demais poderes e enfrentar a milícia”, defendeu.

A expansão das atividades milicianas, segundo ela, ocorreu pela ausência de fiscalização das atividades por parte da Prefeitura do Rio. “A prefeitura pode fazer muito e eu tenho coragem suficiente para isso”, afirmou.

Aceno ao PT

Na sabatina, Martha Rocha fez um aceno à Benedita da Silva (PT) – a ex-governadora do Rio foi entrevistada por VEJA E VOTE na manhã de ontem.

“Queria deixar o meu abraço à Benedita da Silva e registrar a minha alegria ao ver seis mulheres concorrendo ao cargo de prefeita. Isso demonstra essa trajetória que nós, mulheres, fizemos, entendendo que lugar de mulher também é na política”, declarou.

Questionada por Dora Kramer sobre o gesto – um grande indicativo de uma aliança entre PDT e PT no segundo turno das eleições municipais do Rio – a candidata respondeu: “A referência à Benedita da Silva é referência pela sua trajetória. Nós somos adversárias políticas, desejamos o mesmo lugar [cargo de prefeita], mas não somos inimigas”, disse. “Aliás, as mulheres dão um belo exemplo da sua conduta política porque as questões importantes são tratadas sempre de forma suprapartidária”, acrescentou.

Principais caciques dos partidos, Ciro Gomes e Lula reataram as relações nesta semana – eles estavam rompidos desde 2018, ano do pleito presidencial.

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Recuperação econômica pós-pandemia

A candidata do PDT acredita que a chave da recuperação econômica da cidade diante da pandemia do coronavírus é uma gestão qualificada – e disparou contra os principais adversários no pleito, Eduardo Paes (DEM), líder isolado nas pesquisas, e Marcelo Crivella, atual prefeito que concorre à reeleição e com quem ela está tecnicamente empatada em 2º lugar.

“O ex-prefeito [Eduardo Paes] recebeu um rio de dinheiro, realizou dois grandes eventos e o legado que se deixou para a cidade do Rio de Janeiro não foi um legado de referência na educação, na mobilidade ou na saúde pública. Por outro lado, o atual prefeito [Marcelo Crivella], segundo dados do Tribunal de Contas do Município deixou, só no ano de 2019, um deficit de quatro bilhões de reais. Então, mais do que nunca, quem sentar naquela cadeira em 2021, e não será uma tarefa fácil, é seguir o que já foi um dia a capital cultural e que hoje é uma referência como a capital dos escândalos, eu acho que, mais do que nunca, a gente tem que ter uma gestão”, declarou.

Em seguida, se eleita, Martha Rocha elencou quais serão as suas primeiras medidas à frente da Prefeitura do Rio. “Redução de desperdícios, redução de contratos, verificar as cobranças dos grandes devedores, revisão dos incentivos fiscais. Ou seja, revisão das contas e, a partir daí, tornar essa cidade uma cidade que seja boa para viver, para estudar e para investir”, enumerou.

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A ideia, segundo ela, também é consolidar programas de geração de emprego e renda, organizar a “zeladoria” da cidade e deixar o ambiente de negócios mais propício para o investimento em ciência e tecnologia.

 

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