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Mãe de Adriano da Nóbrega comprou restaurante após ser exonerada da Alerj

Raimunda Veras Magalhães trabalhou como assessora parlamentar no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro entre 2015 e 2018

Por Cássio Bruno e Jana Sampaio
Atualizado em 25 mar 2021, 19h49 - Publicado em 15 fev 2020, 12h00

Em dezembro de 2018, pouco mais de um mês depois de ser exonerada do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (sem partido) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro por causa do esquema da rachadinha, Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega, comprou o restaurante e pizzaria Boteco e Brasa, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. Ela já era proprietária de outro estabelecimento, no mesmo bairro. Primo de segundo grau de, Antônio de Souza, de 62 anos, é o gerente dos dois negócios e confirmou a VEJA que ela é mesmo uma das sócias das duas casas. Antônio conta que não tem contato com Raimunda há pelo menos um ano, desde a deflagração da operação Os Intocáveis. “Ela desapareceu de um dia para o outro”, diz o primo. “Conheci o Adriano pequeno. Tenho certeza que a Raimunda ficou sem chão (com a morte do miliciano)”, fala o comerciante.

Ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Rio, Adriano é investigado por chefiar um grupo de milicianos chamado de Escritório do Crime. Ele foi morto em ação conjunta da Secretaria de Segurança Pública da Bahia e do núcleo de inteligência da Polícia Civil do Rio no último dia 9 de fevereiro.

O Boteco e Brasa, na Rua Dona Cecília 39, foi aberto em 20 de dezembro de 2018, com capital social de 50 000 reais (hoje vale 200 000, segundo Antônio). O segundo restaurante, Bairrada Adega Gourmet, vale 180 000 reais, também de acordo com comerciante. Somados, os dois chegam a 380 000 reais.

Raimunda deixou o gabinete de Flávio Bolsonaro em 13 de novembro do mesmo ano. A mãe de Adriano estava na Assembleia como assessora desde 2 de março de 2015, com salário líquido de 5 124 reais. De acordo com relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf, hoje Unidade de Inteligência Financeira), Raimunda depositou 4 600 reais na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor e braço direito de Flávio.

Ex-esposa de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega também trabalhou no gabinete de Flávio, com os mesmos vencimentos da ex-sogra. Danielle, porém, era nomeada desde novembro de 2010. Foi exonerada junto com Raimunda. Como Raimundo, é investigada pelo Ministério Público por envolvimento na rachadinha – quando o assessor do gabinete devolve parte de seus salários para o parlamentar.

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VEJA esteve no endereço residencial de Raimunda, no Itanhangá, Zona Oeste do Rio, registrado na Alerj. Ninguém foi encontrado no imóvel. Já no prédio de Danielle, em Copacabana, Zona Sul, a uma quadra da praia, o porteiro informou que ela não mora mais lá há um ano. Nenhuma das duas retornou as ligações da reportagem.

A atual mulher de Adriano, Julia, também tinha cargo na Alerj, entre 2016 e 2017. Ela era assistente na Subsecretaria-geral de Recursos Humanos da Casa. Salário líquido: de 3 446 reais. A publicação no Diário Oficial está assinada pelo então presidente da Alerj, Jorge Picciani, preso na Operação Cadeia Velha, braço da Lava-Jato no Rio de Janeiro.

A ligação entre Adriano e a família Bolsonaro

O clã Bolsonaro prestou homenagem a Adriano da Nóbrega três vezes. A primeira veio do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, em 2003, cinco meses depois de Adriano e o então sargento Fabrício Queiroz, naquela época lotados no 18º Batalhão da Polícia Militar, em Jacarepaguá, na Zona Oeste fluminense, se envolverem na morte de um morador da comunidade de Cidade de Deus. Flávio fez uma moção de louvor na Assembleia Legislativa do Estado do Rio em que elogia Adriano por seu “brilhantismo”.

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Dois anos depois, o parlamentar voltou a prestar homenagem ao ex-policial, desta vez com a medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Assembleia. A justificativa, de novo, era “por ser um brilhante oficial”. Detalhe: na ocasião Adriano estava na prisão, onde recebeu a comenda.

A terceira vez que o nome Adriano foi proferido publicamente por um Bolsonaro veio do próprio Jair, então deputado federal, no mesmo 2005. Ele foi à tribuna da Câmara prestar solidariedade ao policial e ainda denunciou a condenação, depois revertida.

O perfil de Adriano

Adriano comandava a milícia nas favelas de Rio das Pedras e Muzema, na Zona Oeste do Rio. Esse é um dos braços mais articulados no estado dessas organizações criminosas. O ex-militar ficou na polícia do Rio entre 1996 e 2014. Descrito como um bom atirador e entendedor de armas, desenvolveu essas qualidades nos tempos em que foi capitão do Bope. Ali se destacou por seu porte atlético.

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Após o envolvimento na morte do morador da Cidade de Deus, Adriano voltou a ter problemas com a Justiça em 2005, quando foi condenado a 19 anos de prisão por um segundo homicídio, também atuando como policial. Acabou preso e logo liberado. Por esse mesmo crime, voltou à prisão em 2011. A vítima, nesse caso, foi o morador de uma favela que havia denunciado PMs pela prática de extorsão a moradores.

Em dezembro de 2013, Adriano foi expulso da PM por suspeitas de envolvimento com contraventores do jogo do bicho. Um deles, Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, o contratou inclusive como segurança particular.

A polícia sabe que é ele o chefe de um grupo de matadores de aluguel do Rio conhecido como Escritório do Crime. O bando teve os negócios impulsionados pelo dinheiro da contravenção. Também é investigado pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. O matador de Marielle, Ronnie Lessa, vem do sombrio escritório.

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