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‘Entrei no mar para ajudar minha mãe’, diz jovem fotografado com óleo

Na segunda-feira, 21, feriado em Pernambuco, Everton Miguel dos Anjos, 13 anos, se jogou na água para retirar o óleo que se espalhava pela praia

Por Estadão Conteúdo 26 out 2019, 11h20

“Ele tem personalidade forte e é muito teimoso.” Foi assim que a comerciante Ivaneide Maria Oliveira definiu a personalidade do filho, Everton Miguel dos Anjos, de 13 anos. Na segunda-feira, 21, feriado em Pernambuco, o jovem não pensou duas vezes antes de se jogar no mar para retirar o óleo que se espalhava pela praia. Após ser fotografado coberto com o material negro e viscoso, a imagem repercutiu nas redes sociais. “Eu estava ajudando minha mãe no bar. Quando vi o pessoal tentando tirar aquela sujeira do mar, e as pessoas na praia com medo, só pensei no trabalho de minha mãe”, contou o jovem. “A gente depende do bar para viver. Se a praia ficasse daquele jeito, ninguém ia ficar no bar da minha mãe.”

Aluno do 7º ano do Ensino Fundamental, Everton é o caçula dos quatro filhos de Ivaneide. Nos finais de semana e feriados, ajuda a mãe no pequeno bar que a família mantém na areia da praia de Itapuama, município do Cabo de Santo Agostinho (PE). “Trabalho na praia há mais de 10 anos. Dependo disso aqui para viver. Há dois anos, consegui montar meu próprio bar e ele (o garoto) me ajuda”, afirmou Ivaneide. “Ficamos assustados quando vimos as manchas de óleo no mar e na areia. A praia estava cheia, mas muita gente ficou com medo e foi embora. E, quando vi, ele já estava dentro da água ajudando a recolher a sujeira. Pedi para ele sair, porque algumas pessoas falaram que poderia fazer mal à saúde. Mas cadê que ele me ouvia?”, lembrou.

Na escola e na comunidade onde mora, no bairro de Ponte dos Carvalhos, também no município do Cabo, Everton está famoso depois que sua foto viralizou na internet. “O pessoal me deu os parabéns. Muita gente pediu para me seguir nas minhas redes (sociais). Teve gente que perguntou se não tive medo de ficar doente ou de afundar com o peso do óleo. Vi que a minha foto apareceu até na TV. Mas o que quero mesmo é que a gente consiga ver a praia limpinha de novo”, disse.

Além da mãe, a avó e duas tias de Everton dependem do comércio na praia para sobreviver. Dias após o mergulho, o garoto não sentiu sintomas de intoxicação. “Vi que teve gente que passou mal e teve até de ser atendida em hospital. Mas estou bem”, contou. Cartilha do governo federal divulgada nesta sexta-feira, 25, apontou que o contato com o óleo, a curto prazo, pode causar náuseas, tonturas e dor de cabeça. Já Ivaneide disse estar preocupada com a saúde do filho. “Estou preocupada porque vi que muita gente adoeceu e só agora percebo o perigo que ele correu”, explicou. Neste fim de semana, a família vai estar novamente na praia, trabalhando. “Esperamos que tudo volte ao normal. Sem a praia, todos estaremos perdidos.”

Vazamento de petróleo

O diretor de Assuntos Corporativos da Petrobras, Eberaldo Neto, disse na sexta-feira, 25, que a análise de 30 amostras do petróleo recolhido de praias do Nordeste permitiu concluir que ele foi extraído de três campos de produção na Venezuela. Em entrevista para analisar os resultados do balanço do terceiro trimestre de 2019, Neto esclareceu que a companhia agiu assim que foi acionada pela União, no início de setembro, e recolheu 340 toneladas de resíduos das praias.

Reportagem de VEJA desta semana mostra como reação demorada e confusa ao desastre do derramamento faz o governo passar do papel de vítima à condição de vilão do problema. “Fizemos análise em mais de 30 amostras e concluímos que é de três campos venezuelanos”, disse Neto. “A origem do vazamento é outra coisa. A gente entende que é na costa brasileira”, acrescentou. O vazamento teria ocorrido no Oceano Atlântico, em uma região no caminho de uma corrente marinha que vem da África e se bifurca, seguindo para a costa setentrional do Nordeste, de um lado, e para a Bahia e o Sudeste, do outro, passando pelos locais onde o óleo tem sido recolhido.

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