Documentos da CIA são ‘assunto de historiadores’, diz ministro da Defesa
Declaração do general Joaquim Silva e Luna contradiz anúncio de chanceler sobre pedido de documentos inéditos da agência dos EUA sobre a ditadura militar
O ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, minimizou nesta quinta-feira (17) a descoberta de registros da Agência Central de Inteligência (CIA) americana sobre a ditadura militar no Brasil. Questionado sobre qual seria o procedimento do ministério após o governo brasileiro requerer os documentos da CIA, Luna disse que este assunto se “esgotou” e é apenas uma questão de “historiadores”.
Um memorando da CIA datado de 1974 e divulgado na semana passada afirma que o ex-presidente Ernesto Geisel determinou a continuidade das execuções de opositores da ditadura durante seu governo, entre 1974 e 1979.
Outro documento, de 11 de fevereiro de 1971, divulgado hoje, mostra que o governo americano acreditava que o ex-presidente Emilio Garrastazu Médici “devia ter consciência da extensão da violência usada pelas forças de segurança brasileiras”. “E, talvez, dado consentimento tácito em vez de enfrentar os elementos da linha dura nas Forças Armadas”.
“Para o Ministério da Defesa, esse tema se esgota na Lei da Anistia. A partir daí, é uma atividade para historiadores e, se tiver demanda, para a Justiça. Isso passa a ser assunto de historiadores e Justiça, se houver demanda. Com a Lei da Anistia, do ponto de vista militar, este assunto está encerrado”, disse o general, primeiro militar a assumir o ministério desde a sua criação, em 1999.
A declaração do ministro contradiz a postura do próprio governo. Nesta semana, em visita à China, o chanceler Aloysio Nunes afirmou que vai requisitar os documentos “que ainda não foram publicados”. A medida atende a um pedido feito pelo presidente do conselho do Instituto Vladimir Herzog, Ivo Herzog. Na última sexta-feira, ele enviou carta ao Itamaraty solicitando ajuda para obter junto ao governo norte-americano “a liberação completa dos registros.
“Os documentos históricos que narram este terrível capítulo de nossa história e que o Estado brasileiro, através das suas Forças Armadas, proclama estarem destruídos, foram preservados por outra nação”, diz a carta do Instituto.