Delegado preso no Rio é o mesmo que recolheu material da Legião Urbana
Denunciado pelo Ministério Público, o policial civil Maurício Demétrio foi responsável pela deflagração das operações Será e Tempo Perdido
Preso nesta quarta-feira, 30, numa ação do Ministério Público contra cobrança de propina a comerciantes de Petrópolis, cidade localizada na Região Serrana do Rio de Janeiro, o delegado da Polícia Civil, Maurício Demétrio, foi o responsável pela deflagração de duas operações – “Será” e “Tempo Perdido” – que apreendeu material do cantor e compositor Renato Russo, líder da Legião Urbana. A força-tarefa, realizada pela equipe de Demétrio, em outubro e dezembro do ano passado, motivou a retirada de 91 fitas guardadas em um depósito utilizado pela então gravadora da banda e de um relatório que continha informações sobre versões inéditas de músicas do grupo.
As duas operações ocorreram após denúncia feita por Giuliano Manfredini, filho adotivo e herdeiro de Renato Russo, morto aos 36 anos, em 1996, em decorrência da Aids. De acordo com o que Giuliano declarou a Maurício Demétrio, à época titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial (DRCPIM), o dono de um perfil falso nas redes sociais havia mencionado a existência de obras inéditas de Renato que Giuliano, detentor dos direitos autorais do pai, até então desconhecia. Todo o material apreendido por Demétrio foi entregue a Giuliano.
O caso ganhou repercussão e provocou mais um capítulo na briga entre o herdeiro de Renato Russo com o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá, outros integrantes da Legião Urbana. Além do relatório e das fitas, os agentes comandados por Maurício Demétrio apreenderam ainda HDs de computador, CDs e cartuchos de gravação. As operações da Polícia Civil foram criticadas por Dado, Bonfá e artistas que conviveram com a banda formada nos anos de 1980. Na última terça-feira, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) liberou os dois músicos a usarem a marca Legião Urbana após anos de tramitação.
Segundo as investigações da Operação Carta de Corso, Demétrio é apontado por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, de chefiar uma organização criminosa dentro da DRCPIM para arrecadar propina de lojistas da Rua Teresa, famoso ponto turístico de Petrópolis. Outros três policiais civis de sua equipe, um perito criminal, três comerciantes e três advogados também foram denunciados à Justiça suspeitos de fazerem parte da suposta quadrilha. Em três anos, entre março de 2018 e março de 2021, o Gaeco acredita que o lucro dos envolvidos seja de 1 milhão de reais apenas com o esquema de Petrópolis.
Lotado atualmente na Delegacia do Consumidor, Demétrio foi preso num condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde mora. De acordo com o Gaeco, o delegado, ao invés de reprimir crimes, principalmente a “pirataria”, exigia dos comerciantes da Rua Teresa o pagamento de vantagens ilegais para permitir que continuassem vendendo roupas “piratas”. Os promotores afirmaram também que Demétrio comandou uma manobra para arquitetar a prisão em flagrante de um dos delegados que o investigava numa operação forjada. A denúncia do Gaeco diz ainda que o delegado lavava dinheiro comprando itens de luxo e os registrava em nome de terceiros, como os carros.