
Os dedos tortos eram a marca registrada do goleiro pernambucano Manga, um dos grandes ídolos do Botafogo, time pelo qual conquistou os bicampeonatos cariocas de 1961 e 1962 e de 1967 e 1968. Ele não usava luvas, por achá-las incômodas. Era a garantia debaixo do travessão de uma equipe de ataque fenomenal, com Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Nos anos 1970, brilhou também pelo Internacional de Falcão e cia, bicampeão brasileiro de 1975 e 1976. Fora do Brasil, atuou pelo Nacional do Uruguai, campeão da Libertadores de 1971. Na seleção brasileira, contudo, teve passagem historicamente apagada — titular da Copa do Mundo de 1966, na qual a canarinho foi eliminada ainda na fase de grupos, falhou nos três gols na derrota por 3 a 1 para o Portugal de Eusébio. Frasista incorrigível, sempre irônico, brincava com as dores e temores de sua posição. “Eu não gostava de barreira. Mandava abrir. Tinha problema no vestiário depois. ‘Manga, por que não coloca barreira?’ Eu dizia: ‘Não, eu sou o responsável’.” Em sua homenagem, 26 de abril, data de seu nascimento, virou o “dia do goleiro”. Morreu em 8 de abril, aos 87 anos. O velório foi realizado no Salão Nobre de General Severiano, sede do clube carioca da estrela solitária.
O padre abusador

Arcebispo de Newarke depois, de Washington, Theodore McCarrick foi um dos cardeais americanos de maior projeção internacional, influente na arrecadação de fundos dos Estados Unidos para a Santa Sé. Em 2019, contudo, depois de extensa investigação por abuso sexual contra menores, ele seria expulso da Igreja Católica pelo papa Francisco. Com a destituição — na punição mais grave de um clérigo dentro dos cânones católicos —, ele foi despojado de todos os seus direitos e prerrogativas como sacerdote, incluído o direito de rezar missa em privado. O processo contra McCarrick tratava de um caso em particular, as agressões a um jovem de apenas 11 anos, e que perduraria até a idade adulta, quarenta anos depois do início da relação forçada. Ele morreu em 3 de abril, aos 94 anos.
A precisão da memória

No tempo em que os motores de busca como o Google eram ficção científica e a internet, recurso exclusivo de acadêmicos em universidades, encontrar informações históricas era um cuidadoso trabalho de investigação manual. A pesquisadora Susana Horta Camargo, diretora do Departamento de Documentação da Editora Abril (Dedoc) em boa parte dos anos 1980 e 1990, liderava uma equipe responsável por enriquecer as reportagens. Coube a Susana o minucioso zelo em edições especiais como a de 100 anos da Proclamação da República, em 1989, ao caçar notícias, frases e ilustrações da virada do século XIX para o XX. Minuciosa, ela fez do Dedoc — hoje denominado Acervo — uma fonte essencial para a memória do jornalismo no Brasil. Susana morreu em 5 de abril, aos 75 anos, em decorrência de uma hepatite.
Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939