Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Das guerras à tentativa de golpe no Brasil, extremos marcaram 2023

O planeta andou na corda bamba, em equilíbrio delicado e permanente desafio aos limites do que é moral e do que é imoral

Por Da Redação Atualizado em 25 dez 2023, 08h41 - Publicado em 22 dez 2023, 06h00

Em um de seus mais belos livros — Era dos Extremos — O Breve Século XX —, o historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) circunscreveu aquele tempo entre o início da I Guerra Mundial, em 1914, e a derrocada da União Soviética, em 1991. “Não sabemos o que virá a seguir, nem como será o segundo milênio, embora possamos ter certeza de que ele terá sido moldado pelo Breve Século XX”, escreveu. Não seria exagero dizer, de mãos dadas com a inteligente percepção de Hobsbawm, que 2023 moldará o que teremos em 2024 e nos anos vindouros. Foram doze meses de extremos, de permanente teste de limites da civilização — um período que bebeu do passado recente, sem dúvida, mas, dados os desafios postos agora (uns vencidos, outros longe disso), pavimenta um amanhã instigante. Vale, como frase a ser puxada pela memória, o comentário do filósofo francês Paul Valéry (1871-1945): “O problema do nosso tempo é que o futuro não é mais como era antigamente”.

Um cuidadoso mergulho nos humores de 2023 ilumina o pêndulo de uma temporada mercurial, em que parece ter valido tudo, menos a neutralidade. Um tempo de marcos radicais. O ano começou com a estupidez golpista dos cidadãos de camisa amarela no infame 8 de Janeiro em Brasília. Uma horda de radicais bolsonaristas, incomodados em ver Lula na Presidência, depredou os edifícios da Praça dos Três Poderes. Seria risível, não fosse trágico, na forma de ameaça para a democracia — felizmente debelada e depois levada a julgamento no STF. Do outro lado do mundo, não bastasse o andamento dos ataques da Rússia de Putin contra a Ucrânia, iniciados em 2022, o dia 7 de outubro registrou um outro momento de exacerbação, das fronteiras morais levadas ao precipício. O ataque dos terroristas do Hamas contra Israel, com resposta imediata e virulenta, voltou a incendiar o Oriente Médio e deixou o mundo tenso como havia muito não se via. Parece não haver dúvida: entre uma data e outra, o dia 8 de janeiro no Brasil e 7 de outubro em Israel, teria acontecido um “breve 2023”. Com o olhar estrito, reafirme-se, de Hobsbawm, que nunca apagou o que tinha ocorrido antes de 1914 e que jamais teve a ambição de decretar algum fim da história em 1991, como se grandes eventos fossem capazes de parar a roda das relações entre as nações. Não são.

Um robô de inteligência artificial (IA) como o celebrado ChatGPT e similares — eis aí um outro extremo do ano, a humanidade empurrada para um imenso dilema ético — talvez se referisse aos atentados em Brasília e às bombas na Faixa de Gaza como episódios isolados. Não seria capaz, certamente, de ligar os pontos, de estabelecer relações, de eventualmente apontar causas e efeitos — como faz VEJA nesta edição especial, a última do ano. Seria incapaz, aliás, de enxergar na morte da fã no show da espetacular Taylor Swift um outro beco sem saída — o da irresponsabilidade e ganância dos produtores que dificultaram o acesso à água no Estádio Nilton Santos, no Rio, no calorão de uma primavera quente como nunca. Resultado, reafirme-se com estridência, de outro triste pacote de extremos — o do clima, provocado pela mão suja do ser humano.

Os limites foram estabelecidos, de algum modo foi possível apartá-los, como em Brasília. Em muitos casos, abriu-se uma avenida de medos, como no conflito bélico de Gaza. Em um capítulo específico, o da IA, tudo indica ser apenas o começo da história. E, lá na frente, quando olharmos para 2023, logo identificaremos o primeiro grande big bang de um novo tempo, o da máquina alimentada pelo ser humano, e sabe-se lá aonde chegaremos. Talvez fosse o caso de ficar com o comentário quase ingênuo — mas bonito em sua simplicidade e didatismo — da letra de Alô, Alô, Marciano, de Rita Lee, que morreu em 8 de maio: “Alô, alô, marciano / A coisa tá ficando ruça / Muita patrulha, muita bagunça / O muro começou a pichar / Tem sempre um aiatolá pra atolar / Tá cada vez mais down no high society”. É canção de 1980, imortalizada também pela voz de Elis Regina. Poderia ter sido escrita ontem.

LEIA REPORTAGENS DA RETROSPECTIVA:

Selvageria do 8 de Janeiro ainda causa indignação, quase um ano depois

José Casado: O enredo de 2023 teve Bolsonaro milionário e acordo de Lula com a direita

Prioridade à agenda internacional trouxe efeito colateral a Lula em 2023

Continua após a publicidade

Com pautas repaginadas, Lula olha para o retrovisor no 1º ano de governo

Apesar de acenos à paz, choques entre poderes perigam seguir em 2024

Onda de violência escancarou crise na segurança pública do Rio em 2023

Déficit zero e reforma administrativa são desafios para o governo em 2024

Cerco na política e no Judiciário testou resistência de Bolsonaro em 2023

Continua após a publicidade

Encrenca grande: novela do escândalo das Americanas não terminou

Os fiascos do bilionário Elon Musk em 2023

Secas, enchentes, ondas de calor… Choque climático alarmou o planeta

Inteligência artificial avança, e debate sobre dilemas éticos esquenta

Triunfo da ciência sobre a pandemia trouxe alívio para a retomada

Continua após a publicidade

A injeção bombou: o fenômeno Ozempic dominou o ano

Faces da cólera: a ferida aberta em Israel e as incertezas após ataque do Hamas

De mal a pior: Ucrânia fecha o ano em cenário de desolação na guerra

Milei ameniza o tom após vitória na Argentina, e vizinhos pagam para ver

Ano de 2023 marca o complicado ensaio de Trump para voltar ao poder

Continua após a publicidade

Água na fervura: um ano difícil tanto para Biden quanto para Xi

Sob nova coroação: os primeiros desafios do rei Charles III

Trágica implosão do OceanGate mostrou fascínio duradouro pelo Titanic

A volta ao Brasil da caixa com ossos do dinossauro Ubirajara

Fascínio enluarado: o ano da expansão das missões privadas para o espaço

Continua após a publicidade

A queda do craque: Neymar fecha 2023 de modo melancólico

Rebeca Andrade: o voo da rainha em 2023

Taylor Swift: o ano em que o furacão inescapável abalou o Brasil

Cinema, música, livros e televisão: os fenômenos da cultura em 2023

Vidas em versos: as despedidas que marcaram o ano

Em alto e bom som: as frases de 2023

Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.