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Cunha, o detento: encrenqueiro e detestado pelos carcereiros

Indócil, o ex-presidente da Câmara, preso no Paraná, herda o título que já foi de Nestor Cerveró: o de pior preso da Lava-Jato

Por Ullisses Campbell, de Curitiba
Atualizado em 30 mar 2017, 13h42 - Publicado em 4 mar 2017, 08h00

Os protestos começam logo no café da manhã. Às 6 horas, o ex-deputado Eduardo Cunha acorda e reclama, por exemplo, que o pão francês está velho, ou amassado. As queixas prosseguem e ficam mais estridentes na hora do almoço. O ex-presidente da Câmara dos Deputados reputa como de péssima qualidade a comida servida no Complexo Médico-Penal de Pinhais (PR), onde cumpre prisão preventiva desde dezembro de 2016. Em 10 de fevereiro, ao receber sua marmita de isopor, disse que não iria comer “aquilo” (o cardápio do dia: arroz, feijão, tomate, mandioca, alface e um bife de alcatra), embora minutos depois tenha mudado de ideia. Dois dias antes, já havia resmungado por ter sido obrigado a sair da sua cela, a 605, para a faxina semanal feita por uma equipe de detentos. Cunha detesta ter de deixar suas atividades solitárias (basicamente o estudo de sua defesa) e interagir com outros presos. Com alguns, recusa-se mesmo a falar. É o caso, por exemplo, de José Dirceu, que hoje chefia a biblioteca do presídio. Para retirar o único livro que pegou lá (O Exército de um Homem Só, de Moacyr Scliar), pediu a ajuda de outro preso, de modo a não precisar encarar o petista. Cunha também se desentendeu com seu vizinho de cela, o ex-deputado Luiz Argôlo, que, convertido à religião evangélica, costuma rezar em voz alta várias vezes ao dia. O hábito irrita o ex-presidente da Câmara.

Por gestos assim, Cunha é tido pelos carcereiros de Pinhais como “o pior preso da Lava-Jato”. O título já pertenceu a Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, cujos impropérios podiam ser ouvidos mesmo depois que as luzes da prisão se apagavam. Mais tarde, o epíteto foi transferido para Renato Duque, também ex-diretor da Petrobras, que passou por Pinhais e solicitava aos agentes carcerários a gentileza de só lhe dirigirem a palavra em caso de necessidade absoluta.

Assim que chegou a Pinhais, vindo de uma temporada de dois meses na carceragem da PF em Curitiba, Cunha resistiu a submeter-se ao exame de corpo de delito, uma praxe. Em seguida, acionou seus advogados para que movessem uma ação contra o sistema penal do Paraná por ter sido, como são todos os presos, fotografado sem roupa durante o procedimento. Ao juiz Sergio Moro, a quem prestou depoimento no mês passado, afirmou estar confinado em “ambiente degradante, misturado a presos condenados por crimes violentos”. Pediu sua soltura. Moro negou.

Em fevereiro, enviou à administração penitenciária do Paraná uma lista de doenças que, a seu ver, justificariam sua mudança para prisão domiciliar. No total, são oito os problemas de saúde que o ex-deputado alega ter, incluindo pressão alta, hemorroidas e estresse. Um laudo assinado por médicos particulares e também entregue à administração atestou que ele tem um aneurisma cerebral. Solicitado a passar por exames com médicos do sistema prisional para a confirmação das moléstias, Cunha se negou a fazê-­lo. Pelas regras da prisão, tal atitude configura “falta leve”. “Um preso que procura o serviço médico para se queixar de doença, seja ela grave ou não, não pode se recusar a fazer exames”, explica o diretor-geral do Departamento Penitenciário do Paraná, Luiz Alberto Cartaxo. Por sua recusa, contou Cartaxo, Cunha foi punido com cinco dias sem banho de sol nem visitas, mais dez dias sem poder receber a “sacola”, como são chamados os produtos extras que os presos têm direito a ganhar semanalmente de visitantes. Cunha teve quatro pedidos de habeas-corpus negados até agora. Um novo recurso que tramita no STJ é sua esperança de sair da cadeia. Se isso acontecer, pode haver luto no país, mas haverá festa em Pinhais.

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