Crimes do PCC, Faria Lima, elos e protagonistas
PCC lavou bilhões com metanol adulterado, fintechs “paralelas” e 40 fundos na Faria Lima, comprou usinas, fazendas, mansão e caminhões.

A Operação Carbono Oculto, orquestrada por Polícia Federal, Receita Federal, Ministério Público de São Paulo e Gaeco, escancarou um esquema de lavagem e fraude que girou entre R$ 52 e R$ 30 bilhões entre 2020 e 2024. A facção importava metanol ilegalmente e o misturava à gasolina — combustível adulterado que abasteceu parte do país — enquanto a cadeia de lavagem se estendia a fintechs “bancos paralelos” e fundos na Faria Lima que blindavam o patrimônio do PCC.
– No epicentro desse caos estava Mohamad Hussein Mourad , apelidado de “Primo” ou “João” — o cérebro que ligava formuladoras, distribuidores e fundos em SP e outros estados.
– Seu comparsa e operador: Roberto Augusto Leme da Silva (“Beto Louco”), que co-pilotava o ecossistema fraudulento nas empresas Aster e Copape.
– Marcelo Dias de Moraes, presidente da fintech Bankrow, também figura central como elo financeiro.
– Camila Cristina de Moura Silva (Caron), diretora financeira da fintech BK, usada como “banco paralelo” para lavar centenas de milhões.
– Valdemar de Bortoli Júnior , com ligações com as distribuidoras Rede Sol Fuel e Duvale , responsáveis por parte da logística.
– José Carlos Gonçalves (“Alemão”), com vínculos diretos ao Primeiro Comando da Capital.
– Lucas Tomé Assunção, contador da GGX Global Participações, dona de 103 postos, e da Usina Sucroalcooleira Itajobi.
– Marcello Ognibene da Costa Batista, contador suspeito de diversas fraudes societárias que facilitaram o encobrimento.
Além dos personagens, a engrenagem teve empresas e fundos — imensos, multicamadas, quase invisíveis:
- Fintechs e instituições financeiras: Bankrow, BK, Reag Investimentos, Genial, Trustee, Altinvest, Banvox, BFL, Monetar, Finaxis, Positiva e outras.
- Fundos de investimento usados como caixas-fortes da lavagem: dezenas de multimercado e imobiliários, entre eles Location, Brazil Special Opportunities, Olimpia, Minnesota FII, Pinheiros FII, Los Angeles 01 FII, Reag High Yield, entre tantos que fritaram a transparência.
- Redes de distribuição e postos: Aster Petróleo, Copape, Safra Distribuidora, Duvale, Arka Distribuidora, GGX Global, além de distribuidoras menores e empresas de fachada nas trilhas do esquema.
Armações financeiras aninhadas em postos adulterados, distribuidores, usinas, padarias e fundos que disfarçavam o suor sujo do crime.
Detalhes e ramificações
- O PCC usava cerca de 1.000 postos de combustíveis, espalhados por oito estados, para movimentar R$ 52 bilhões em quatro anos — muitos deles declaravam movimentações fiscais ridículas.
- Uma fintech atuava como um “banco paralelo” e sozinho lavou R$ 46 bilhões. Houve depósitos em espécie expressivos — fenômeno incomum em bancos digitais, especialmente em contas com origem duvidosa.
- Como pagamento da guinada ilícita: metanol ilegal importado via Porto de Paranaguá era vendido para posterior adulteração nos postos — uma combinação tóxica de fraude e perigo ambiental/técnico.
- Dos recursos lavados, a quadrilha investiu em estruturas físicas: 1.600 caminhões, 4 usinas de álcool, um terminal portuário, mais de 100 imóveis, 6 fazendas em SP, mansão de R$ 13 milhões em Trancoso (BA).
- O volume de sonegação fiscal calculado chega a R$ 7,6 bilhões — e os promotores abriram ações para bloquear mais de R$ 1 bilhão em bens.
- São ao menos três operações simultâneas entre MP-SP, PF e Receita: Carbono Oculto, Quasar e Tank — revelando uma atuação institucional sem precedentes.
Essa história parece uma ficção distópica — mas é sólida, detalhada, dissecada por órgãos públicos. O PCC usou Faria Lima como bunker financeiro, e SP como ringue de um crime tão calculado quanto frio.