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CPI do Cachoeira foi esvaziada a pedido do governo, diz Delcídio

Senador, que é delator da Operação Lava Jato, depôs nesta quinta-feira ao juiz federal Marcelo Bretas no processo da Operação Saqueador

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 19h42 - Publicado em 16 fev 2017, 19h53

O ex-senador Delcídio do Amaral disse hoje, em depoimento ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal no Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira sofreu um esvaziamento por orientação do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A comissão foi instalada em abril de 2012 para apurar o envolvimento do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, com políticos e agentes públicos. Delcídio foi ouvido no processo da Operação Saqueador.

“O governo percebeu, nitidamente, que era uma CPI que poderia trazer problemas e, consequentemente, como todo governo faz, não é só aquele governo à época, mas outros também o fizeram, quando há risco, abafa”, acrescentou à imprensa após o depoimento.

Delcídio não citou o nome da então presidente, mas disse que, por questões políticas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou a criação da CPMI. O ex-senador disse que a comissão foi instalada no “sentido de justiçar”, o que tinha sido feito na CPMI dos Correios.

“Ele [Lula] foi um dos incentivadores dessa CPI, porque atingiria líderes de oposição fortes que estavam em Goiás, porque era uma visão territorial. Uma CPI restrita aos líderes do estado de Goiás, o que não aconteceu”, disse. “[Incentivou] no sentido de que se assinasse, para que se tivesse o número de assinaturas necessárias, que tinha que investigar e assim foi feito. Depois das consequências todas que vieram, o próprio governo agiu no sentido de tirar o pé”, completou.

Segundo Delcídio, a CPMI foi criada para atingir o atual governador de Goiás e ex-senador, Marconi Perillo (PSDB) e o senador Demóstenes Torres, que pertencia à bancada do DEM-GO e foi cassado em 2012 após denúncias de que recebia recursos de Cachoeira. “Diz que chumbo trocado não dói e então o chumbo voltaria. Só que aí, quando perceberam, o chumbo não estava voltando. O chumbo ia bater em quem estava querendo se vingar e esvaziaram a CPI”.

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Reuniões de bancada

Ainda no depoimento, acompanhado pelos procuradores da República, Leonardo Freitas, coordenador da Operação Lava Jato no Rio; e Sérgio Pinel, Delcídio contou que não era membro da CPMI e que sua participação na comissão foi apenas de acompanhamento dos trabalhos como senador. Ele acrescentou, no entanto, que em reuniões de bancada da base de apoio ao governo o assunto era discutido com preocupação de novos envolvimentos.

“Falavam que, com as quebras de sigilo, outras empresas apareceram e aí poderiam aparecer contribuições de campanha ligando essas contribuições de campanha com várias obras em andamento. Aí acho que foi por este motivo que resolveram esvaziar e a CPI terminou, melancolicamente, sem resultado nenhum”, revelou, acrescentando, que tinha orientações de líderes da base do governo.

A Operação Saqueador investiga o esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro no valor de 370 milhões de reais. Além dos principais acusados, Fernando Cavendish, antigo dono da Construtora Delta, e Carlinhos Cachoeira, foram denunciadas 21 pessoas, entre os quais os empresários Adir Assad e Marcelo Abbud.

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“Eu ouvi falar nesses nomes todos à época que estourou a CPI, mas não tinha detalhes. Como disse no meu depoimento, não dava nem tempo. A gente tem muitas atividades. Quem conhece o que acontece em uma CPI, normalmente, é quem é titular ou que é suplente”, disse.

Operação Leviatã

Após o depoimento, Delcídio do Amaral ainda comentou a Operação Leviatã, deflagrada hoje pela Polícia Federal para aprofundar as investigações sobre suposto esquema de desvio de recursos das obras de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e pagamento de propina a partidos políticos. Em sua delação premiada, Delcídio tinha apontado o senador Edison Lobão (PMDB-MA) como um dos envolvidos no esquema.

“Quando eu fiz esse depoimento, fiz questão de dizer que era um depoimento político, que seria complementado por outras colaborações. Acredito que este depoimento foi complementado por outras colaborações que ratificaram o que eu tinha dito”, disse. “Eu sabia o que tinha acontecido, tanto é que fiz questão de registrar ao Ministério Público que com outras colaborações que viessem isso iria se fechar. Acredito que dentre as colaborações, a da Andrade Gutierrez deu a consistência necessária para esta operação de hoje”.

(com Agência Brasil)

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