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Coronavírus: maior favela do país passa por processo de higienização

Recordista de casos da Covid-19 entre as comunidades pobres do Rio de Janeiro, a Rocinha teve até agora 9 mortes registradas oficialmente

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 2 Maio 2020, 12h12 - Publicado em 2 Maio 2020, 11h54

Em uma tentativa de frear o avanço descontrolado de casos do coronavírus na Rocinha, a maior favela da América Latina, o local foi escolhido para passar por um grande processo de sanitização neste sábado. Cerca de 140 pessoas, sessenta delas voluntários da própria comunidade, incrustada na Zona Sul do Rio de Janeiro, estão percorrendo as ruas principais, becos e vielas da localidade borrifando um produto de limpeza especial – mata o vírus e cria uma película protetora. A expectativa é que com a iniciativa, promovida pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) em parceria com a Associação de Moradores da Rocinha, os focos de contaminação pela Covid-19 na comunidade, recordistas de infectados entre as favelas cariocas, sejam reduzidos. A Rocinha, com 70.000 habitantes, de acordo com o último Censo do IBGE, tem ainda hoje vinte valas de esgoto a céu aberto e cerca de 50% da população não contam com saneamento básico. Na parte alta do morro, a população não consegue sequer cumprir uma regra básica em tempos de pandemia: lavar as mãos. Nestes locais, a falta de água é uma constante.

A favela carioca é um triste retrato dos bolsões de pobreza que se espalham pelo país – são 6.300 comunidades, nas quais vivem mais de 12 milhões de pessoas. A favela lidera o ranking de casos do novo vírus entre as comunidades carentes do Rio de Janeiro. De acordo com o boletim epidemiológico oficial, são 74 contaminados e 9 óbitos. Especialistas em saúde pública, no entanto, estimam que esse número seja quinze vezes maior. Só nas duas semanas, morreram doze moradores da comunidade na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que funciona na rua principal.  “Mas pelos relatos das famílias que tiveram parentes internados nos hospitais da rede pública, já perdemos pelo menos 30 pessoas aqui”, afirma Wallace Pereira, presidente da Associação de Moradores. “A situação está crítica. Estamos lutando do jeito que podemos, mas faltam políticas públicas na comunidade”, completa.

Uma equipe de VEJA passou um dia da última semana na Rocinha e verificou que o isolamento social praticamente inexiste ali. O comércio continua, em sua maioria, aberto e as ruas apinhadas de gente. À noite o cenário é ainda mais aterrador: continuam a ser realizadas festas e forrós, ignorando a pandemia que assola o mundo. A reportagem verificou ainda que várias pessoas infectadas, sem ter com quem contar e sem condições de parar suas atividades, continuam circulando normalmente pela favela. De acordo com os líderes comunitários locais, a prefeitura fez uma única operação para coibir a abertura do comércio local, no início da pandemia, e não voltou ao local. Esta semana, a favela se viu envolvida em outra polêmica protagonizada pelo governo municipal do Rio. O prefeito Marcelo Crivella, bispo-licenciado da Igreja Universal, anunciou a instalação de um tomógrafo na comunidade para auxiliar o diagnóstico do coronavírus. Moradores locais chegaram a fazer um panelaço em protesto pelo local escolhido para a implantação do equipamento: ao invés de ficar na UPA da Rocinha, como seria natural, o tomógrafo está sendo instalado no terreno da Igreja Universal.

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