Como cortar o cabelo em casa? Confira as dicas de especialistas
Sem salão, o jeito é improvisar no confinamento - e publicar o resultado nas redes sociais
Viver preso dentro de casa, mesmo em espaços agradáveis e confortáveis, não tem sido fácil. E fica mais difícil ainda quando o “quarentener”, apelido concebido nas redes sociais, se olha no espelho e depara com um cabelo que não vê salão há muitas semanas. Não por acaso, reabrir cabeleireiros e barbearias tem sido uma das primeiras medidas em lugares prontos para relaxar o confinamento — e não prontos também, como o Estado americano da Geórgia e, há poucos dias, o Brasil, por decreto de Jair Bolsonaro (embora a decisão final esteja nas mãos de cada governador). A experiência tem mostrado que muita gente, mesmo podendo ir, permanece ressabiada de frequentar um local onde distanciamento, a prevenção número 1 contra o novo coronavírus, é praticamente impossível. O resultado é um grande contingente de anônimos e famosos que se aventuram nas tesouras e nas tinturas, arriscando soluções caseiras nem sempre bem-sucedidas, mas ainda assim exibidas, é claro, no Instagram de cada dia — como o cabelo verde renegado com uma careta pela atriz Hilary Duff.
Quem não sabe como cortar o cabelo vai ao Google ou pede lições para os amigos mais afeitos a soluções domésticas. E não é só o cuidado estético que leva uma pessoa a mudar o visual, mesmo que isso esteja além das suas habilidades. Pintar o cabelo de cores estapafúrdias, como o tom “vermelho paixão” postado por um desgostoso cantor Ricky Martin, serve também como válvula de escape para o tédio, a inquietação e a instabilidade provocados pelo isolamento social. “As pessoas buscam formas de controlar e mudar o próprio corpo, já que não podem modificar o que está ao redor”, diz o psicólogo Cloves Amorim, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). “Além disso, a ausência da pressão do trabalho estimula a criatividade.”
Elas por tédio (e raízes brancas), eles por necessidade, todo mundo está dando um jeito no cabelo em casa. A professora Paula Miranda França, de 40 anos, experimentou um momento de impulsividade no fim de março: depois de cortar o cabelo do filho Miguel, de 11 anos, decidiu passar máquina 2 nas suas madeixas, que iam até os ombros. “Eu me sentia aprisionada e resolvi: se vou ficar em casa, posso ser mais livre e fazer o que eu quiser”, justifica Paula, que felizmente gostou do resultado e pensa em manter o visual até o fim da quarentena. Já o alagoano Arthur Toledo, de 31 anos, raspou por necessidade, vítima de uma grande falha na parte de trás da cabeça, causada pela máquina manuseada pela mulher na fazenda onde o casal mora, na zona rural de Bauru (SP). “Fiquei tão diferente que algumas pessoas não me reconheceram. Mas tudo bem, vai crescer de novo”, conforma-se, bem-humorado.
Cortes malfeitos viraram mania no TikTok, o aplicativo de vídeos rápidos que faz muito sucesso entre os jovens, com uma infinidade de filminhos de vias tortuosas desbravadas por tesouras na mão de amadores. Mais convencional, Bruno Gagliasso postou no Instagram o caminho de rato desenhado nas laterais da sua cabeça em um momento de criatividade dos filhos Titi, de 6 anos, e Bless, de 5. A atriz Claudia Raia depositou nas mãos do marido, Jarbas Homem de Mello, a tarefa de retocar suas raízes. “A gente se reinventa. Vambora, todo mundo tem de saber fazer tudo”, brincou.
Há que tomar cuidado, porém, com o tamanho do desastre (veja no quadro acima). “A imagem abalada pode deixar algumas pessoas deprimidas”, alerta o cabeleireiro Abner Matias, de São Paulo, que está cobrando 200 reais por um pacote de instruções que inclui um cronograma de cuidado capilar e recomendações sobre como hidratar e colorir o cabelo. Matias diz que as visualizações de seu canal no YouTube dobraram desde que o isolamento começou. “Apesar das brincadeiras, a maioria quer cuidar bem dos fios, e não estragá-los”, afirma. Conselho sempre repetido por ele e pelos colegas: pense muito antes de manejar a tesoura na direção de uma mudança extravagante. A quarentena está demorando para acabar, mas não vai durar para sempre.
Publicado em VEJA de 20 de maio de 2020, edição nº 2687