Como a vitória de um traficante no STF pode ajudar Geddel a sair da Papuda
Decisão do Supremo dá esperança ao ex-ministro. Enquanto isso, ele vive entre leituras e estudos profissionalizantes na cadeia
No livro Crime e Castigo, o escritor russo Fiódor Dostoiévski conta a história de um estudante que mata uma senhora agiota com uma machadada. Antes de cometer o assassinato, o jovem enfrentava um dilema: matar alguém seria moralmente errado se o objetivo fosse nobre? Depois, veio a dúvida se ele deveria continuar ignorando a sua culpa ou confessar o que fizera e se redimir. O personagem decide assumir o erro — e é condenado. Essa narrativa entreteve o ex-ministro Geddel Vieira Lima na penitenciária da Papuda, em Brasília, durante dois meses. Depois de escrever um resumo e provar que leu de cabo a rabo a obra, o ex-ministro solicitou à Justiça a remição de quatro dias do tempo que poderá passar atrás das grades.
Geddel tem os próprios dilemas — e motivos nada nobres para passar por essa situação. Ele está preso preventivamente há quase dois anos, depois que a polícia encontrou 51 milhões de reais que seriam dele escondidos num apartamento em Salvador (BA). Os peritos identificaram as digitais do ex-ministro nos sacos de dinheiro, provavelmente fruto de propina. Apesar das fortes evidências, ele nega ser o dono das malas. Do outro lado, o Ministério Público quer que Geddel seja condenado a oitenta anos de cadeia. Na última semana, surgiu uma luz no fim do túnel para o político baiano. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, revogou uma prisão preventiva de um traficante por considerá-la alongada demais. O ex-ministro espera que seu caso tenha o mesmo desfecho — e já recorreu.
Enquanto aguarda uma decisão, Geddel lê e estuda para abreviar seu tempo de prisão. Além de ter se entretido com Crime e Castigo, o ex-ministro concluiu recentemente as 384 páginas de Inteligência Emocional. Best-seller escrito por Daniel Goleman, o livro ensina como controlar as emoções. Dono de um temperamento explosivo, Geddel vive se envolvendo em confusões no presídio. Ele também já fez vários cursos, e mostrou-se um aluno aplicado. Seu desempenho em determinadas disciplinas foi excelente: licitação (nota 10, mas essa era esperada), biossegurança hospitalar (9), vendedor (10, igualmente esperada) e mecânica (8,5). A cada curso concluído, o detento poderá reduzir quinze dias do seu tempo na prisão. Na pior das hipóteses, se for condenado, Geddel já terá cumprido um pedaço da pena. Se for absolvido, terá um rol de opções profissionais caso desista da política.
Publicado em VEJA de 14 de agosto de 2019, edição nº 2647
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