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Começa hoje o julgamento do pai e da madrasta do menino Bernardo

O médico Leandro Boldrini e a enfermeira Graciele Ugulini são acusados da morte do garoto de 11 anos, em abril de 2014

Por João Batista Jr., de Três Passos (RS)
Atualizado em 11 mar 2019, 18h53 - Publicado em 11 mar 2019, 08h00

Na manhã desta segunda-feira, 11, na cidade de Três Passos (RS), começa o julgamento dos suspeitos de executar Bernardo Boldrini, de 11 anos. Respondem ao processo criminal o pai da vítima, o médico Leandro Boldrini, a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz (amigos de Graciele). Eles serão julgado pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, onde os jurados decidirão se são culpados ou inocentes dos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (Boldrini e Graciele), triplamente qualificado (Edelvânia) e duplamente qualificado (Evandro), além de ocultação de cadáver. Leandro Boldrini também responderá pelo crime de falsidade ideológica.

Bernardo Boldrini desapareceu no dia 4 de abril de 2014, em Três Passos. Seu corpo foi encontrado no dia 14 do mesmo mês, dentro de um saco plástico, enterrado às margens de um rio na cidade de Frederico Westphalen. O crime chocou o país pela crueldade e pela ligação familiar de seus possíveis algozes. Edelvânia contou em depoimento que o menino foi dopado antes de receber uma injeção letal. Graciele Ugulini levou o enteado até a cidade de Cristal do Sul, onde Edelvânia morava, em sua caminhonete L200. No caminho, ela foi multada por excesso de velocidade. À época, a promotoria afirmou que o pai foi o mentor do crime.

A tragédia poderia ter sido evitada. Na tarde do dia 24 de janeiro, dois meses e meio antes de seu assassinato, Bernardo entrou sozinho na sala do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente no fórum de Três Passos, município com cerca de 23.000 habitantes. Ele pedia socorro. Queixou-se de xingamentos, maus-tratos e abandono por parte de quem deveria lhe dar amor e atenção. “Ninguém me dá bola lá. Eu quero uma família que cuide de mim”, relatou. Apesar de viver em uma casa confortável e com piscina, o garoto não tomava banho, usava uniforme escolar sujo e não recebia alimentação — daí ganhava abrigo na casa de vizinhos condoídos com a situação. 

A Justiça tentou tirar do pai a guarda do menor para concedê-la à avó materna, Jussara Uglione, mas Boldrini negou-se a entregar o filho. Como não havia sinais de violência física, o juiz Fernando Ferreira dos Santos concedeu noventa dias para que o médico cumprisse o acordo de melhorar sua relação com o filho. Não houve tempo.

A mãe de Bernardo morreu em 2010, em um caso de aparente suicídio. Um mês depois, seu pai, Leandro Boldrini, já estava morando com Graciele — a enfermeira trabalhou como secretária do consultório do cirurgião.

Bernardo tem uma meia-irmã, hoje com 6 anos, que vive com uma tia materna. Jussara Uglione, a avó materna da vítima, morreu aos 76 anos em decorrência de insuficiência cardíaca.

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