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Bruno Sindona: “Mais que prédios, quero erguer um mundo melhor”

Ele transformou experiências traumáticas em alicerce para criar casas populares com proposta inovadora

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h15 - Publicado em 16 mar 2024, 08h00

Meu pai veio do Vale do Jequitinhonha, catou papelão, foi garimpeiro, trabalhou em obras. Minha mãe tinha um salão de beleza improvisado e vendia salgadinhos. E eu, nascido em Osasco, desde cedo queria ajudá-los. A pobreza força a gente a buscar alternativas, ninguém quer conviver com ela. A minha sorte é que nunca achei que aquele lugar era o meu, e, por isso, fui logo auxiliar nas obras e aprendi a negociar. Aos 17 anos, porém, peguei tuberculose, meu primeiro contato próximo com a morte. Passei seis meses dentro de um quarto. Minha mãe já era doente, mas botou a minha cama junto à dela e passava noites me olhando, com medo de que eu parasse de respirar. Foi difícil, mas transformador. Curado, voltei ao trabalho. Até que, em 2008, uma incorporadora adquiriu um terreno herdado pela minha família, só que ela quebrou antes de finalizar o empreendimento. Era como se estivéssemos com a loteria ganha nas mãos, mas perdido o bilhete. Então, mesmo sem ter muita noção, com as pessoas me achando meio doido, tomei à frente e concluí a obra. Como um menino que dormia em uma cama escorada em blocos de pedra podia construir um prédio? Pois essa foi a primeira criação da Sindona.

A empresa começou a crescer, mas eu só pensava em dar uma vida boa para a minha mãe. Não deu tempo, infelizmente. A perda dela de um lado e o crescimento da incorporadora do outro foram tempos complicados. Todo mundo queria ser meu amigo. Acabei me tornando compulsivo: bebia demais, brigava, não dormia, a vida era só festa e virou um caos. E o trabalho, claro, começou a desandar. Até que, em 2015, um assalto me fez cair na real. Tinha 24 anos e foi minha segunda experiência de cara com a morte. Levei quatro tiros. Consegui escapar e chegar ao hospital, mas com aquela sensação de não poder respirar. A recuperação foi mais um processo de casulo e renascimento. Percebi ali que nenhum carro importado ia devolver minha mãe e os anos de saúde que estava perdendo com os excessos. Minha missão, então, mudou. Passou a ser fazer moradias para transformar vidas.

Como é que uma pessoa pode ter dignidade se dorme em uma casa infestada de ratos, como a aquela em que eu dormi um dia? Sei bem o que é ter que correr de enchente, e, não por menos, decidi traçar minha carreira numa direção de humanizar o mercado imobiliário. Poderia ganhar muito mais dinheiro de outra forma, mas não era isso que iria me satisfazer. O que mais me motiva a fazer residências bonitas, funcionais e acessíveis é que as pessoas de baixa renda possam não só ter sua casa própria como orgulho de entrar e morar ali. Passados cinco anos do assalto, a vida e os negócios caminhavam bem. Até que veio a pandemia. E, pela terceira vez, me vi sem ar e colado na morte. Peguei Covid em março de 2020, quando ainda não havia exame, ninguém sabia o que era aquilo, e as pessoas começavam a morrer. Saí do hospital com uma bombinha de asma e mal podia levantar da cama. Mais uma vez, foi um tempo de reflexão e de virada na minha vida — desta vez, pela fé.

Não tem a ver com religião, mas, sim, em acreditar não só no etéreo, mas em mim, em um futuro melhor, no planeta, em algo coletivo e positivo. É um dos motivos pelos quais entrei para o Conselhão do governo federal. Ali posso ajudar a desenvolver projetos habitacionais e obter mais ferramentas para realizá-los. Quero que mais pessoas carentes possam viver bem, ter confiança na vida. Essa é a minha luta, sou um guerreiro do bem. E, depois de todas essas experiências traumáticas que vivi, entendi que ainda estou caminhando e aprendendo. E percebi definitivamente que não são só prédios que quero erguer. Quero construir um mundo melhor.

Bruno Sindona em depoimento dado a Simone Blanes

Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884

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