As conexões por trás do maior roubo de armas da história do Exército
O crime deu origem a uma investigação sem precedentes nas Forças Armadas
O inacreditável episódio do roubo de um quartel do Exército em São Paulo de 21 armas, entre metralhadoras e fuzis, algumas delas capazes até de derrubar helicópteros, que veio à tona no último dia 16, teve outro componente aterrador: o indício forte de que uma parte das Forças Armadas tem conexões com os bandidos, incluindo as milícias do Rio de Janeiro. No curso das investigações que resultaram na recuperação de dezesseis peças do arsenal até quinta passada, 26, descobriu-se que parte dele havia ido parar rapidamente na Gardênia Azul, área da Zona Oeste da capital fluminense dominada por milícias ligadas ao Comando Vermelho (CV). Oito peças estavam no porta-malas de um carro na região. Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, os bandidos teriam recusado a mercadoria pelo fato de as armas não estarem em boas condições.
Além de representar o maior roubo de armas da história do Exército, o crime deu origem a uma investigação sem precedentes nas Forças Armadas — quando o caso veio à tona, 480 militares foram “aquartelados” na cidade de Barueri, local do roubo. As apurações chegaram ao número final de 27 suspeitos, que já foram libertados — sete devem ser indiciados à Justiça Militar por participação direta no caso e os demais enfrentarão processos administrativos por “negligência”, de acordo com o chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, general de brigada Maurício Vieira Gama. Dezessete militares já começaram a cumprir vinte dias de prisão administrativa por “falha de conduta e/ou erro de procedimento nos processos de fiscalização e controle de armamento”. O crime levou ainda à exoneração do diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista — não há indícios de que o oficial tenha participado, mas ele se tornou alvo de forte pressão devido à repercussão negativa do incidente. É o mínimo a ser feito diante de uma situação tão preocupante.
Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865