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Horas antes de morrer, Marielle frisou crimes contra mulher

Vereadora do PSOL participou de reunião com militantes negras no Centro do Rio

Por Fernando Molica
Atualizado em 15 mar 2018, 12h08 - Publicado em 15 mar 2018, 07h33

Cerca de três horas horas antes de ser assassinada, a vereadora Marielle Franco (PSOL) fez uma transmissão ao vivo de um evento em que ressaltou o crescimento de crimes contra mulheres negras. Logo no início do vídeo, postado em sua página no Facebook, ela afirmou: “Não é à toa que os índices de homicídio, de feminicídio e estupro contra o nosso corpo, infelizmente, aumentam.”

De acordo com a legenda que acompanha a gravação, as imagens são da Roda de Conversa Mulheres Negras Movendo Estruturas, realizada, na noite de ontem, na Casa das Pretas, na Lapa. A vereadora foi morta, quando, após a reunião, ia para casa, na Tijuca.

Ao abrir a conversa, Marielle ressaltou que, no encontro, ela e as outras mulheres abordariam temas como dores e resistência: “Nosso corpo que fala, nossa cor que fala, nossa raça que fala, nosso gênero que fala”, frisou. O vídeo tem 1h38 (abaixo).

O assassinato de Marielle Franco

A vereadora foi assassinada a tiros na noite desta quarta-feira, no Rio de Janeiro. O motorista do carro em que Marielle estava também foi baleado e morto. A assessora Fernanda Chaves também estava no veículo e sobreviveu. O crime aconteceu na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, região central da cidade.

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Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas últimas eleições para a Câmara Municipal, com 46.502 votos. Na noite desta quarta, antes do homicídio, ela participou de um evento com jovens negras na Lapa.

Em nota, o PSOL cobrou “apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo” e destacou a atuação política de Marielle. “Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta.”

Ativa nas redes sociais, a vereadora costumava postar mensagens de apoio ao movimento negro e aos direitos da mulheres e críticas ao governo de Michel Temer, à intervenção federal no estado e à atuação da polícia. No último domingo, Marielle protestou contra uma operação da Polícia Militar na Favela de Acari. “Chega de matarem nossos jovens! Chega de esculacharem a população! #VidasNasFavelasImportam”, escreveu. Em outro tuíte, ela ligou a PM à morte do jovem Matheus Melo, baleado na terça na favela do Jacarezinho ao sair da igreja, em caso ainda sem solução.

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A trajetória de Marielle Franco

Formada em sociologia pela PUC-Rio, ela tinha mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Marielle também coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado do deputado estadual Marcelo Freixo, também do PSOL.

O prefeito Marcelo Crivella publicou a seguinte nota sobre a morte: “É com profundo pesar que lamentamos o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco, cuja honradez, bravura e espírito público representavam, com grandeza inigualável, as virtudes da mulher carioca. Sua trajetória exemplar de superação continuará a brilhar como uma estrela de esperança para todos que, inconformados, lutam por um Rio culto, poderoso, rico, mas, sobretudo, justo e humano. Em cada lar uma prece, em cada olhar uma lágrima e em cada coração um voto de tristeza, dor e saudade. É assim que hoje anoitece a cidade desolada e amargurada pela perda de sua filha inesquecível e inigualável. Que Deus a tenha!”

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