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Análise: MP e Polícia Civil disputam protagonismo pelo caso Marielle

Já o governador Wilson Witzel (PSC) aproveita as prisões para fazer palanque

Por Leandro Resende
12 mar 2019, 17h57

Três horas depois de o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), dizer, ao lado da Polícia Civil, que a prisão dos acusados de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes em março do ano passado era uma “resposta importante à sociedade”, o Ministério Público Estadual iniciou uma entrevista coletiva sobre o mesmo crime. Causou estranheza: por que uma investigação conjunta entre a Divisão de Homicídios da Polícia Civil e o MP precisou ser explicada duas vezes?

A resposta pode estar ligada à disputa pelo protagonismo no esclarecimento do crime, quase um ano depois dos disparos que tiraram a vida de Marielle e Anderson. Witzel participou da coletiva realizada no final da manhã ao lado da Polícia Civil e anunciou que o MP foi convidado para estar junto, mas preferiu não comparecer

Mais tarde, a promotora Simone Sibilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, esclareceu que não havia nenhuma rusga entre as instituições. “Entendemos que os locais mais adequados para coletivas do Ministério Público sejam aqui, no Centro Integrado de Comando e Controle ou na Cidade da Polícia. Essa é uma coletiva complementar”, afirmou. O Ministério Público, então, não cedeu palanque para Witzel.

Em cerca de dez minutos de fala do governador, pouco foi dito sobre o caso Marielle e as prisões realizadas hoje: ele disse que elucidar o episódio “sempre foi seu compromisso”, mas convenientemente esqueceu de dizer que estava ao lado dos deputados que, durante a campanha eleitoral, quebraram uma placa com o nome da parlamentar. Quando passou para o segundo turno, Witzel afirmou que o episódio seria apurado “como qualquer outro”. Hoje, aproveitou as câmeras para enumerar realizações de seus três meses de governo e fazer promessas.

Para além do palanque eleitoral, a realização de duas coletivas mostrou divergências entre a Polícia Civil e o Ministério Público. De acordo com o primeiro órgão, o policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado como executor dos disparos, usou uma espécie de “segunda pele” no dia do atentado: uma cobertura para os braços para dificultar o reconhecimento de seu corpo. Mas o Ministério Público diverge. “A imagem daquele dia da morte da Marielle não revela que Ronnie estivesse usando esse tipo de malha, de segunda pele. Há uma imagem do denunciado com essa proteção em uma outra ocasião”, afirmou Elisa Fraga, coordenadora de Segurança e Inteligência do Ministério Público.

O discurso se alinha, no entanto, nas explicações de momento para a motivação do crime: motivo torpe, pelas bandeiras que Marielle defendia. A investigação ainda procura saber se houve um mandante no crime.

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