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“Adriano temia ser morto como ‘queima de arquivo'”, diz advogado

Catta Preta pede rigor nas investigações para apurar morte do ex-capitão do Bope, que estava foragido há um ano e morreu neste domingo, 9

Por Jana Sampaio Atualizado em 9 fev 2020, 19h47 - Publicado em 9 fev 2020, 18h07

O advogado Paulo Emílio Catta Preta, que atuou por oito meses na defesa de Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como chefe da milícia “Escritório do Crime”, disse que vai pedir às Corregedorias de Polícia do Rio e da Bahia a investigação da operação que resultou na morte do ex-capitão do Bope. Adriano foi morto na manhã deste domingo, 9, no sítio do vereador do PSL Gilsinho da Dedé, na área rural da cidade de Esplanada, no litoral baiano, após resistir à prisão e trocar tiros com agentes do Batalhões de Operações Especiais.

Segundo Catta Preta, Adriano ligou para ele pela primeira vez na terça, 4, para dizer que temia ser morto como de “queima de arquivo”. O advogado afirma que nunca teve contato direto com o miliciano, mas que, apesar disso, tinha convicção de sua inocência e absolvição. A conversa aconteceu dias após uma operação para prendê-lo na Costa do Sauípe, na Bahia.

“A mulher dele, Julia, me contou que policiais apontaram armas para as filhas do casal, de 17 e 7 anos, durante essa operação. Depois, o Adriano me ligou e afirmou que não adiantaria se entregar porque ninguém queria sua prisão, e sim sua morte”, disse o advogado a Veja.

De acordo com Catta Preta, ele tentou convencer o miliciano afirmando que estava convicto de sua absolvição. “Eu o aconselhei a se entregar e negociar sua rendição, mas ele tinha certeza de que seria morto. Não perguntei o que motivaria a tal “queima de arquivo”, mas, de fato, ele foi morto dias depois dessa conversa”, disse o advogado, que afirmou que se a suspeita de Adriano estiver correta, vai exigir a punição pelo crime. “Nenhuma pessoa deve ser executada sumariamente, por mais que seja um foragido da polícia”, disse Catta Preta.

O advogado entrou para a defesa do ex-capitão do Bope há oito meses e, mesmo sem conhecê-lo, teve convicção de sua inocência dele ao ler o processo. “O Adriano é um bandido de folhetim, mas os autos do processo não trazem provas de que ele é o chefe da milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.

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Outros crimes do “Capitão Adriano”

Foragido há cerca de um ano, o miliciano era suspeito de participar de diversos homicídios, inclusive o da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. Adriano estava sendo investigado pela inteligência da Secretaria de Estado de Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público.

Em uma matéria de junho de 2019, VEJA adiantou que Adriano e Fábrico Queiroz, que trabalharam juntos no 18º Batalhão da PM, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, se envolveram em um homicídio em 2003. Juntos, Adriano e o sargento Queiroz atiraram em Anderson Rosa de Souza por volta de 0h30 de 15 de maio de 2003, durante uma ronda na Cidade de Deus. Souza morreu em consequência dos tiros, e a dupla, na madrugada, foi a uma delegacia registrar o que qualificou de auto de resistência — na sua versão, dispararam para se defender.

Anos mais tarde, Queiroz recrutou a mãe e a esposa do miliciano, que à época já era notório no submundo do crime, para trabalharem com ele no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este ainda era deputado estadual no Rio de Janeiro. Em dezembro, o Ministério Público do Rio constatou que Queiroz usou as contas bancárias da mãe e da mulher de Adriano para repassar parte do salário delas, em um esquema que ficou conhecido como “rachadinha” no antigo gabinete do Zero Um, Flávio. O deputado, em 2005, chegou a homenagear o miliciano com a Medalha Tiradentes, a mas alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio.

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