“Bolsonaro exerce pouca autoridade”, diz acusado de financiar fake news
Otávio Oscar Fakhoury diz nunca ter pago por disparos de WhatsApp, mas admite ter dado dinheiro para manifestações
Investigado no inquérito das fake news sob os cuidados de Alexandre Moraes, o empresário Otávio Oscar Fakhoury se diz alvo de uma “perseguição”. No dia 27 de maio, três de seus endereços foram alvos de busca e apreensão: sua casa, seu escritório e a residência de sua mãe, todos em São Paulo. Dois celulares, um HD e vários DVDs foram levados para análise. “Desde o dia da ação, eu peço para ter acesso integral ao inquérito. O ministro Alexandre Moraes afirma ter liberado, não é verdade. Até a presente data não tivemos acesso integral aos autos, uma prerrogativa do advogado e do cliente”, diz seu advogado João Manssur. “O gabinete de Moraes mandou uma mensagem por WhatsApp com o despacho, mas na prática não liberou o documento.” Procurado por VEJA, o Supremo Tribunal Federal diz que o advogado que requerer a cópia do inquérito pode ir buscá-la. Em entrevista a VEJA, Fakhoury fala sobre o inquérito, o financiamento de manifestações, avalia o governo Bolsonaro e diz desconhecer o ‘gabinete do ódio’:
O senhor já financiou disparos de fake news e tem alguma atuação no chamado ‘gabinete do ódio’? Eu nem sei o que é gabinete do ódio. Afirmo categoricamente: nunca recebi ordem de alguém para divulgar algo. Faço e posto tudo de acordo as com as minhas convicções. Fiz algumas doações, todas registradas pelo TSE, como 45.700 reais para o PSL de São Paulo nas eleições de 2018.
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Clique e AssineO senhor já financiou manifestações? Sim, mas as legais e ocorridas mediante autorização da polícia. Desse 2014, faço parte de grupos como o Vem Pra Rua e o Acorda Brasil. Um caminhão de som custa cerca de 10.000 reais, eu ajudava com 20% dos custos. Minha última ajuda foi em março desde ano, antes da pandemia, em uma manifestação a favor do governo e contra pessoas específicas, como Rodrigo Maia. Eu não sou contra a instituição em si, mas quero uma limpeza delas.
O senhor teve dois celulares apreendidos. Há conversas com o presidente Bolsonaro e seus filhos? Não tenho contato com o presidente nem com o Carlos Bolsonaro, que conheci pessoalmente em um evento em 2017. Já com o Eduardo Bolsonaro, sim, somos amigos. Eu estive à frente da tesouraria do PSL paulista no ano passado. Não sou filiado ao partido, sou signatário do Aliança, o novo partido do presidente.
Como seu nome consta então nesse inquérito das fake news? Eu me sinto perseguido. No meu caso, as acusações de fake news são, na verdade, opiniões. Eu não sou jornalista. Não existe no código penal tendo a fake news como tipificação. Existe, sim, calúnia, injúria e difamação. Eu nunca fui processado por nenhuma delas e tenho liberdade para falar sobre questões da sociedade. Tenho muito orgulho de nunca ter usado nenhum tostão de governo na minha vida. Eu me sinto livre.
Como o senhor avalia a gestão de Jair Bolsonaro?
Ele fez muitas coisas que prometeu, como a Reforma da Previdência, e outras medidas importantes para destravar a economia. Mas não conseguiu tirar muita gente da esquerda do governo, que está em ministérios como o da Saúde. O pacote anticrime ficou menor… Na verdade, eu vejo um lado ruim: o Bolsonaro exerce pouca autoridade. Muitos o chamam de ditador, mas penso o contrário. Acho que tem exercido pouca autoridade. A Polícia Federal é dele, mesmo assim tem ocorrido ordem ilegais e processos dúbios, como esse das fake news.