‘Pandemia’: série da Netflix é uma ótima aula para tempos de coronavírus
Sem ser alarmista, documentário exalta trabalho de cientistas e médicos ao redor do mundo, revelando desafios e esperanças na caçada aos novos germes
Quem tenta esquecer o coronavírus e entra na Netflix para espairecer, enfim, se assusta. Entre as produções mais populares do ranking divulgado pela plataforma aos assinantes estão filmes sobre vírus mortais e uma série documental de nome alarmante: Pandemia. Produzida ainda em 2019, meses antes de o coronavírus ser divulgado pela China e se espalhar pelo mundo, a série chegou ao catálogo da plataforma no fim de janeiro e agora se mostra não só atualíssima e urgente, como revela que a Covid-19 era um mal há muito tempo esperado pelos cientistas. Instigante, sem causar alarme exagerado, o documentário é uma belíssima aula sobre a importância da ciência e sobre como uma “gripezinha” pode ser uma catástrofe mundial.
“De vez em quando surge uma variante da gripe que representa uma ameaça existencial para nós como espécie”, diz o pesquisador Dennis Carroll, no documentário. Nas primeiras cenas, ele relembra a devastação deixada pela gripe espanhola, em 1918, que matou mais de 50 milhões de pessoas (estima-se que o número pode ter sido o dobro). Em seguida, avisa: “Quando falamos de uma próxima pandemia de gripe não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’”.
Ao longo de seis episódios, a série mostra o trabalho de médicos ao redor do mundo. Na África, representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) tentam frear o ebola. No Egito, no Vietnã e na Índia, os profissionais da saúde encaram a precariedade para combater variações da gripe aviária. Nos Estados Unidos, uma médica (a única de uma cidade pequena) faz o que pode para controlar uma epidemia de influenza local. Em paralelo, veterinários em diferentes pontos do mundo monitoram aves, patos e morcegos, colhendo amostras para tentar prever o próximo grande vírus – e traçar um plano de contenção.
Em todos os casos, o dinheiro e o luxo passam longe da vida dos médicos, que abrem mão de tempo com a família e colocam até a própria vida em risco por um bem maior. “O ebola é o inimigo”, diz um médico ao enfrentar milicianos que tentam parar o trabalho dos postos de saúde na África.
Outra semelhança entre os diferentes cenários é o dilema da desinformação. Em países africanos, espalha-se o boato de que a vacina contra o ebola é, na verdade, uma trama dos Estados Unidos para matar todos os africanos. Enquanto isso, nos Estados Unidos, grupos anti-vacina tornam difícil a erradicação de doenças, estimulando famílias inteiras a cultivar as mais variadas teorias da conspiração sobre a medicação.
Entre as tramas, a mais interessante de se acompanhar é a da empresa Distributed Bio, em San Francisco, onde dois pesquisadores, Jacob Glanville e Sarah Ives, buscam a criação de uma vacina universal contra todos os tipos de gripe e suas futuras mutações. Para manter a independência em relação à indústria farmacêutica, a dupla se inscreve num programa de bolsas da Fundação Bill e Melinda Gates. O resultado de seus esforços é apresentado no último episódio.
Quer o spoiler?
A vacina universal desenvolvida por eles, prevista para 2025, conseguiu o financiamento. No quinto capítulo, eles mostram que o resultado de testes em porcos é positivo: falta, então, testar em humanos. O que a série não mostra, por ter sido filmada antes da atual pandemia, é a resposta da empresa ao coronavírus. Em entrevista a meios de comunicação nos Estados Unidos, Glanville afirma que o laboratório espera entregar em abril uma medicação com um anticorpo que pode ajudar no combate à Covid-19.
Se até agora você fugiu da série por medo de sair dela mais assustado do que quando deu o play, fique tranquilo: o espectador sai de Pandemia é com esperança.