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Documentário sobre coronavírus põe Bolsonaro na ‘lista da vergonha’

Produção da série americana 'Explicando', da Netflix, lista exemplos de líderes que revelaram sabedoria ou ignorância ao lidar com a pandemia

Por Amanda Capuano Atualizado em 29 abr 2020, 19h33 - Publicado em 29 abr 2020, 18h40

O sonoro “e daí?” proferido por Jair Bolsonaro na terça-feira, 28, ao ser confrontado com as mais de 5.000 mortes por Covid-19 no Brasil gerou indignação nas redes sociais, mas não é de hoje que o presidente dá declarações no mínimo infelizes sobre a pandemia que já matou mais de 200.000 pessoas no mundo. Não à toa, o líder brasileiro surge como exemplo de suprema ignorância frente à gravidade da situação pela qual o mundo passa no documentário Explicando… O Coronavírusparceria entre a americana Vox Media e a Netflix, que estreou na plataforma no domingo, 26 — ao se referir ao vírus mortal como “muito mais uma fantasia”.

A declaração surge logo no primeiro minuto da produção e coloca o presidente em uma espécie de “lista da vergonha” que se abre com uma fala do primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, pouco antes de a Itália se tornar epicentro do surto, afirmando que tudo estava sob controle no país. No mesmo balaio, cabem ainda os delírios do presidente iraniano Hassan Rohani – que asseverou que tudo não passava de uma conspiração dos inimigos para fechar sua nação. Ou o inglês Boris Johnson (antes de ser infectado e ir parar na UTI com coronavírus, claro) recomendando que a população do Reino Unido seguisse a vida normalmente, e um Donald Trump arrependido ao afirmar que ninguém imaginara uma pandemia dessas proporções. No outro extremo, os primeiros-ministros do Canadá e da Índia, Justin Trudeau e Narendra Modi, respectivamente, são condecorados por falas em apoio à ciência e ao isolamento social, enquanto a Coreia do Sul é tida como país-modelo pela ampla testagem da população.

O episódio de 26 minutos faz parte da série Explicando – que, como o próprio nome indica, se propõe a explicar de maneira simplificada temas diversos. O negacionismo de Trump é rapidamente contrariado pela afirmação de cientistas que já alertavam para o risco de uma nova pandemia. No lado da lucidez em relação ao problema, há o milionário Bill Gates, fundador da Microsoft, que surge com declarações quase premonitórias. “Se pensarem em algo que pode acontecer e matar milhões de pessoas, nosso maior risco é uma pandemia. Em termos de mortalidade, uma pandemia competiria até com as guerras colossais do passado. A economia pararia, os custos à humanidade seriam inacreditáveis e nenhum país seria imune aos problemas que isso traria”, afirmou ele em um vídeo de 2019 recuperado de um episódio anterior da série.

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Nas cenas que se seguem às falas delirantes dos políticos, o novo coronavírus é apresentado ao espectador através de ilustrações que remontam sua origem, relacionando-o a outros patógenos da mesma família, como o responsável pela epidemia da SARS em 2002. A série, aliás, desconstrói a ideia erroneamente difundida por negacionistas de que epidemias do passado como a de H1N1, ou mesmo a da SARS, mataram bem mais do que a Covid-19 – colocando-a, na verdade, bem mais próxima à Gripe Espanhola, que ceifou mais de 50 milhões de vidas entre 1918 e 1920.

A produção, enfim, foca nos descrentes — para quem acompanha assiduamente a pandemia nos jornais, não há muitas novidades. Um comparativo entre duas cidades dos Estados Unidos — uma que aplicou a quarentena durante a gripe espanhola e outra que não seguiu a medida — explica como funciona o achatamento da curva, e tenta convencer os mais resistentes da necessidade do isolamento social. Cenas do sistema de saúde italiano saturado exemplificam sem delongas o caos causado pela falta de controle da pandemia. Desconstroem-se ainda a ideia de remédios milagrosos e a dificuldade na fabricação de vacinas, alternativa mais esperançosa para o fim da doença. Se faltava desenhar para que as pessoas entendessem, agora não falta mais.

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