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Com versões dos réus, filmes sobre Suzane ficam na superfície do crime

O assassinato dos pais é narrado pelos ângulos dela e do ex-namorado. Mas confrontar as versões de ambos, por si só, não ilumina a verdade dos fatos

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h43 - Publicado em 24 set 2021, 06h00

“Meu dia? Meu dia foi normal”, diz a jovem loira, de olheiras profundas e terço na mão. O tal “dia normal” era a fatídica quarta-feira, 30 de outubro de 2002 — em cuja madrugada ocorreria o assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen, em um bairro nobre de São Paulo. O depoimento banhado em lágrimas de Suzane von Richthofen, filha de 18 anos do casal, almejava vendê-la ao júri como vítima da manipulação do namorado, Daniel Cravinhos. “Achava que ele queria matar meus pais por amor”, declarou ela, com frieza. O trecho do julgamento do crime de enorme repercussão no país é reproduzido em detalhes no filme O Menino que Matou Meus Pais, narrado pela óptica de Suzane (Carla Diaz). Mas um segundo longa, A Menina que Matou os Pais, traz o lado de Daniel (Leonardo Bittencourt). Após sucessivos adiamentos nos cinemas, acabam de ser lançados pelo Prime Video, da Amazon.

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Dirigidos por Mauricio Eça, com roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes, os filmes foram baseados no julgamento, em 2006. Suzane se dizia uma escrava de Daniel; ele afirmava o oposto: estaria tão obcecado por ela que cometeu o crime achando que a vingaria de abusos do pai. Quem diz a verdade? Não importa. Réus confessos, os dois lançaram mão do vitimismo para tentar penas mais brandas. Não adiantou: Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos e seis meses; Cristian, irmão de Daniel e participante do homicídio, pegou 38 anos.

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Ao reconstituir de forma quase literal o disse que disse presente nos depoimentos dos condenados no processo, os filmes ficam na superfície do caso, deixando que o público seja manipulado pelos protagonistas — pois confrontar as versões de ambos, por si só, não ilumina a verdade dos fatos. Em contrapartida, sanam a curiosidade alheia ao adentrar nos bastidores da barbárie protagonizada por uma bela menina rica. Tal apelo, até hoje, faz com que cada “saidinha” de Suzane atraia fotógrafos. Em 2018, Daniel progrediu para o regime aberto. Suzane, ainda no semiaberto, almeja o mesmo direito, mas não passa no teste psicológico. Os especialistas — que ela tentou dobrar — dizem que a moça é narcisista, manipuladora e egocêntrica. Ainda assim, ela conquistou recentemente na Justiça o direito de cursar uma faculdade. A aparência angelical ainda engana. Só que as falas como a do “dia normal” abrem brechas para sua faceta mais assustadora.

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Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2021, edição nº 2757

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