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Rio Grande do Sul

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Política, negócios, urbanismo e outros temas e personagens gaúchos. Por Paula Sperb, de Porto Alegre
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Miguel Rossetto (PT): ‘Temos experiência em recuperação do estado’

Pré-candidato petista ao governo gaúcho é o oitavo entrevistado, em ordem alfabética, nesta série de VEJA

Por Paula Sperb
Atualizado em 28 jul 2018, 22h37 - Publicado em 28 jul 2018, 08h21

Ministro nos governos dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff nas pastas do Trabalho, Secretaria Geral e Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto (PT) quer comandar o governo do Rio Grande do Sul. O pré-candidato defende uma agenda de desenvolvimento econômico para tirar o estado da crise e elegeu como prioridade o pagamento em dia dos salários dos servidores.

“Nós temos uma experiência em recuperação do estado do Rio Grande do Sul. A história tem nos colocado essa tarefa”, disse sobre o período em que foi vice-governador durante a gestão de Olívio Dutra. Rossetto defende a candidatura de Lula à Presidência e acredita que o PT se envolveu “demasiadamente num processo de financiamento empresarial”.

Miguel Rossetto é o oitavo entrevistado, por ordem alfabética, nessa série de VEJA com os pré-candidatos ao Piratini. A primeira entrevistada foi Abigail Pereira (PCdoB), o segundo entrevistado foi Eduardo Leite (PSDB), o terceiro foi Jairo Jorge (PDT), o quarto foi Julio Flores (PSTU), o quinto foi Luis Carlos Heinze (PP), o sexto foi Luiz Portella (PMB) e o sétimo foi Mateus Bandeira (Novo). Abaixo, a entrevista de Rossetto e fotos de arquivo pessoal selecionadas por sua equipe a pedido de VEJA.

Data de nascimento: 04/05/1960
Naturalidade: São Leopoldo
Estado civil: Divorciado
Filhos: Tomás, Eduardo e Marina
Formação: Sociologia pela Unisinos, mestrando em Políticas Públicas pela UFRGS
Profissão: Sociólogo
Histórico de filiação partidária: filiado ao PT desde 1980

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Miguel Rossetto, no centro, acompanhado de Paulo Paim (esquerda) e Sérgio Matte (direita), em 1982 (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Por que o senhor quer ser governador?
Para mudar o estado do Rio Grande do Sul. Tenho experiência de vice-governador, como ministro, como deputado federal. Quero usar esta experiência para liderar um novo projeto de desenvolvimento para o estado. Para que tenha trabalho e emprego para todos gaúchos e gaúchas, para que se tenha os serviços públicos adequados. Hoje, a população gaúcha vive com medo, com absoluta insegurança. Por isso, já estamos discutindo um plano de segurança pública para recuperar o ambiente de tranquilidade do estado. Também um sistema de saúde adequado, especialmente uma atenção à população idosa, e uma escola pública de qualidade. Esses serviços públicos são fundamentais para a qualidade de vida do povo gaúcho. Quero liderar esse projeto e, a partir dessa liderança, colaborar com o projeto nacional de mudança do Brasil.

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Qual será a prioridade do senhor?
Pagar salário em dia. O primeiro decreto meu, o primeiro ato como governador eleito é assegurar o cronograma de pagamento dos servidores em dia. É uma situação gravíssima de desvalorização dos servidores e do serviço público do Rio Grande do Sul. Quem paga essa conta é o cidadão gaúcho. Temos que valorizar quem trabalha. E, com isso, abrir uma nova agenda de qualidade para essas atividades.

O senhor foi vice-governador na gestão de Olívio Dutra. Lideranças do PT costumam dizer que o estado também estava no vermelho quando Olívio assumiu, mas não parcelou salários como o atual governador. O que foi feito diferente?
Nós temos uma experiência em recuperação do estado do Rio Grande do Sul. A história tem nos colocado essa tarefa. Esses partidos, MDB, PSDB, PP, desorganizam, destroem a estrutura do estado, privatizam, desorganizam o serviço público e desorganizam a nossa economia. Temos sido chamados pelo povo gaúcho a arrumar o estado. Foi assim conosco em 1999, quando substituímos o Antônio Britto (MDB), foi assim com o Tarso Genro, após o desastre do governo do PSDB da Yeda Crusius. Nós nos preparamos para essa nova convocação para arrumar o Rio Grande do Sul. Todo o governo tem seus desafios e suas oportunidades. Lá em 1998, o Britto e o MDB diziam que nós não pagaríamos salários em abril de 1999 se não vendêssemos o Banrisul. Nós não vendemos o Banrisul e nós conseguimos pagar os salários.

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Rossetto em plenária do PT, em Porto Alegre, em 2008 (Eduardo Quadros/Divulgação)

Como o senhor fará para tirar o estado da crise?
O Brasil precisa voltar a crescer. O Rio Grande do Sul tem uma economia muito integrada ao país. O novo presidente da República, e é por isso que apoio o Lula, tem que voltar a crescer, voltar a investir. É a política de juro, a política cambial, são os grandes mecanismos de financiamento, de crédito, comandados pelo Banco Central. Nós temos sistema de crédito no estado importante com o Banrisul, BRDE e Badesul, que vamos operar no sentido de estimular a ampliação de investimentos a partir dessas instituições. Vamos usar o sistema público de crédito para ampliar os investimentos no estado. Estou muito focado no diálogo sobre o polo naval de Rio Grande. Temos três estaleiros importantes, hoje é a agenda principal de retomada de crescimento da economia gaúcha. Há mercados, há investidores. Temos que trabalhar no apoio às pequenas e médias empresas, que têm muito peso, e as nossas cooperativas.

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No Rio Grande do Sul, qualquer privatização precisa ser aprovada por votação popular em um plebiscito. A atual gestão tentou, primeiro, retirar a obrigatoriedade do plebiscito para realizar as privatizações e, depois, tentou realizar o plebiscito simultaneamente às eleições reduzindo o prazo da convocação. Qual é a opinião do senhor sobre a lei e sobre a privatização?
O plebiscito em relação ao futuro do estado será feito em 7 de outubro e a população gaúcha vai se manifestar ou pelo continuísmo, com os candidatos do atual governo, ou o projeto alternativo. Somos candidatura de oposição a esse governo. Sou contra esse modelo de vender o patrimônio público sem nenhuma referência estratégica, sem referência ao desenvolvimento econômico, é um modelo fracassado. Essa turma do MDB, do PSDB e do PP, sempre faz isso. Quando eles governaram com o Brito, venderam a CRT, dois terços da CEEE e acabaram com a Caixa Econômica Estadual. Quando a Yeda entra, ela vende 50% do Banrisul. Todos os movimentos que eles fazem, eles diminuem. O povo gaúcho fica mais pobre, com menos patrimônio e mais endividada. Queremos preservar o Banrisul estatal, BRDE estatal, funcionando bem, com uma boa gestão, qualificada, prestando bons serviços. A área de energia é estratégica para o estado, CEEE, Sulgás e CRM são estratégicas para a produção de energia. Sulgás e CRM têm papel renovado com a possibilidade de um polo carbonífero.

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Rossetto, em 2016, quando era ministro do Trabalho em inauguração de fábrica da Mercedes Benz em Iracemópolis (SP) (Erasmo Salomão , MTPS/Divulgação)

O campo da esquerda tem sido cobrado por uma união. A esquerda é dividida? Uma união é possível? O que o senhor pensa sobre isso?
Acho fundamental que a esquerda, os que têm responsabilidade com a democracia, unifiquem suas lutas políticas e disputa eleitoral, mesmo que não tenhamos candidaturas unificadas. É isso o que eu tenho estimulado. Mesmo que não tenhamos uma candidatura única, que tenhamos uma luta unificada para mudar o estado.

A segurança é um dos temas que mais preocupam os gaúchos. Quais são as propostas do senhor para a área?
É uma situação gravíssima. O Rio Grande do Sul é o segundo estado do Brasil em número de chacinas. Os assaltos e roubos aumentaram 80% e os assassinatos, 35%. Porto Alegre, que já foi uma das capitais mais seguras, hoje, na taxa por habitantes, tem mais homicídios do que o Rio de Janeiro. Isso é resultado de um descontrole completo, de uma desorganização e de uma destruição da estrutura. O Rio Grande do Sul tem menos 5.000 policiais nos bairros e nas cidades do que tinha quatro anos atrás. Segurança pública se faz com políticas preventivas, com diálogo com comunidades, com trabalho, com emprego, com uma boa escola pública. Não se faz segurança pública com menos policiais. Estamos tratando de um plano de segurança com reposição de efetivos de policiais, vai envolver maior integração entre a Brigada Militar e a Polícia Civil. Quero uma Brigada Militar presente nos bairros e vilas, através de um policiamento comunitário. Quero uma Polícia Civil com maior capacidade de investigação, evitando a ocorrência do crime, enfrentando o tráfico e desmanche de carros, integração com os serviços de inteligência, uma estratégia de segurança pública preventiva. Os presídios estaduais infelizmente não são espaços de contenção de criminosos e de ressocialização, o Presídio Central é um exemplo, são espaços de organização do crime e das facções. Vamos investir em presídios, mas vamos investir em política prisional diferente. Já estamos trabalhando com a ideia de mais segurança nas escolas, para alunos e professores. Não vou aceitar que nenhum aluno deixe de ir à escola por falta de segurança.

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Em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso. O que o senhor acredita que vai acontecer na eleição?
A gente vai inscrever o Lula no dia 15 de agosto. A partir daí, é uma agenda aberta. Nós teremos candidatura e quero que seja o Lula.

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Rossetto, quando era ministro do Trabalho, em entrega de imóvel do Minha Casa Minha Vida a de Elielza Nunes, em Camaçari (BA) (Richard Dettenborn, Caixa Econômica Federal/Divulgação)

Mas se o Lula não for candidato, o eventual substituto pode emplacar, na opinião do senhor?
O PT será competitivo em qualquer condição e irá para o segundo turno. Eu quero ir com o Lula. Saiu uma pesquisa que em Pernambuco que mostra o Fernando Haddad com 16% da intenção de votos. O partido tem força muito grande. Se pegar o mapa de candidaturas estaduais, temos uma força muito grande. Trabalhamos para que seja o Lula. Não sendo o Lula, será outro companheiro do PT.

O senhor acha que a Lava Jato vai prejudicar o PT nas eleições?
O PT e o povo brasileiro são prejudicados desde o golpe inconstitucional e ilegal que afastou a Dilma. O PT e a população que vê no Lula um grande líder popular são prejudicados por uma prisão ilegal. Somos brutalmente prejudicados por essa situação. O “escândalo de domingo” é inaceitável. O juiz Sergio Moro prevaricou. Ele impediu que uma decisão superior de um desembargador fosse executada. Essas situações repetidas mostram que há um movimento político por parte de juízes e delegados da Polícia Federal contra a democracia e o PT.

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Rossetto em atividade de pré-campanha em Porto Alegre (Arquivo Pessoal/Divulgação)

O PT é cobrado por falta de autocrítica. O senhor acredita que o partido tem que fazer essa autocrítica?
Me pergunto “que autocrítica?”. Os partidos aprendem com seus erros e acertos. Meu balanço é muito positivo. Nós mudamos esse país. Fazer autocrítica em relação ao quê no momento em que os partidos conservadores destroem a democracia, destroem a Constituição, destroem os direitos sociais, destroem o legado de Getúlio. Quer dizer, transformam esse país em um país da violência, da exclusão social e destroem o nosso legado de igualdade, de políticas sociais. A disputa eleitoral vai ser sobe esses assuntos. É o MDB golpista, o PSDB golpista, o PP golpista, destruidores de direitos, que têm que dar explicação à população brasileira. Eles são hoje os responsáveis pela destruição desse país, pela ausência de esperança, de emprego, lá e cá. É o Temer e o Sartori e seus aliados que serão chamados a responder pelas políticas desastrosas. Nós não escondemos a nossa história, nossos erros e nosso acertos. Vamos apresentar nossa história com Lula e com Dilma e, no Rio Grande do Sul, com as experiências do Olívio e do Tarso.

O senhor fala em erros e acertos do PT, quais seriam os erros na opinião do senhor?
Nós nos envolvemos demasiadamente num processo de financiamento empresarial, abandonando uma relação de autonomia e independência, produzia da com uma relação própria entre filiados. Por isso eu saúdo essa decisão de bloquear o financiamento empresarial, este envolvimento que, em alguns casos ultrapassou as relações de controle coletivo do PT com financiamento empresarial. Foi uma experiência duríssima para o PT. Estamos recompondo agora outro padrão de financiamento, que devem garantir autonomia e independência política. Seguramente. um governo de transformação, em qualquer nível, ele não transforma se não tiver condutas inovadoras e transformadoras. O estado brasileiro é muito conservador. Essas acomodações institucionais acabam impedindo a construção de projetos de transformação social e democrática. A ideia de que nossos governos, que têm um mandato de transformação, devem sustentar práticas transformadoras em relações permanentes e diretas com a população. Nós temos uma experiência e uma tradição no Rio Grande do Sul do Orçamento Participativo, do fortalecimento de conselhos de setoriais em permanente diálogo com a sociedade. É isso que eu quero fazer quando eleito governador. O primeiro ato será pagar salário em dia. O segundo decreto será reinstituir o Orçamento Participativo.

O senhor aparece em segundo lugar, tecnicamente empatado com outros candidatos, atrás de José Ivo Sartori (MDB), de quem ganharia um eventual segundo turno de acordo com a pesquisa eleitoral do Instituto Methodus. O que o senhor pensa desse resultado?
As pesquisas são muito recentes. Não temos um quadro diferente de candidaturas. Há um entusiasmo muito grande com a perspectiva de mudança com a nossa vitória. Vamos ampliar isso de tal forma a criar as condições para a vitória eleitoral. É assim que eu vejo: há um entusiasmo, as pesquisas são recentes, há uma vontade de mudança do povo gaúcho e eu quero representar essa mudança.

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