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Na areia movediça

Quanto mais se afunda, mais Bolsonaro se debate — e mais se afunda

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h07 - Publicado em 20 ago 2021, 13h00

Jair Bolsonaro está ficando cercado: suas diatribes surtem cada vez menos efeito, e todo dia surge uma nova má notícia. O TSE cortou a fonte de recursos de seus propagandistas digitais, seu ministro da Justiça está sob investigação, Roberto Jefferson está na cadeia, e fala-se até na prisão do filho Carlos.

O desfile de tanques e o exercício da Marinha viraram motivos de chacota na internet. O voto impresso caiu. O cantor Sérgio Reis, que convocou para o golpe, foi desautorizado pelos aliados e é alvo de uma representação de 29 subprocuradores-gerais e de uma investigação pela Polícia Federal. O próprio Bolsonaro é investigado em sete inquéritos, sem falar da CPI, que arrolará mais meia dúzia de crimes.

Há inflação alta, perspectiva de queda no crescimento e falta dinheiro para o necessário saco de bondades eleitoreiras — Paulo Guedes recorre, sem grande esperança, a expedientes estapafúrdios, como aumento de impostos, PEC do calote e até a venda de um tesouro cultural.

A popularidade cai, a rejeição cresce, a vantagem de Lula aumenta, e não é só o eleitorado que repudia o presidente. Entidades civis, empresários, economistas elaboram manifestos. Os senadores estão irritados com os ataques ao Supremo, e Rodrigo Pacheco, que até ontem fazia cara de paisagem, é agora um defensor da democracia e até critica, indiretamente, o presidente. Ninguém tem pressa para avaliar a indicação de André Mendonça para o STF.

“O presidente está ficando cercado, as diatribes surtem cada vez menos efeito e todo dia há uma má notícia”

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Nada menos do que 27 subprocuradores-gerais — um terço do total — cobram que Augusto Aras aja contra os abusos do presidente, mais da metade dos ministros do Supremo está irritada com a omissão do PGR. Senadores, de quem Aras depende para ser reconduzido ou para chegar ao STF, denunciaram o procurador-geral, pelo crime de omissão, ao Supremo.

Para as Forças Armadas, Bolsonaro é fonte permanente de constrangimento e irritação. O capitão, que com frequência destrata Mourão, proibiu a punição de Pazuello, humilhou o comandante do Exército, usou os tanques para intimidar o Congresso e permitiu um esquema de corrupção na Saúde que inclui uma dúzia de coronéis.

A reação do presidente à perda de apoio é mais agressividade, o que afasta ainda mais os apoiadores, alimenta as ações do Judiciário e torna mais difícil para seus aliados (ou cúmplices) defendê-lo. Bolsonaro parece mergulhado em areia movediça: quanto mais se afunda, mais se debate, e quanto mais se debate, mais se afunda.

Também o país está na areia movediça, Bolsonaro nos impede de respirar. Fernando Collor e Dilma Rousseff caíram por muito menos, mas o capitão conta com a omissão deliberada de Augusto Aras, o apoio escancarado de Arthur Lira (e do Centrão) e a aparente sustentação dos generais.

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Aqueles que sustentam Bolsonaro, que receberam e recebem dele inúmeras vantagens, precisam entender que o país não aguenta mais catorze meses de um presidente que todo dia esgarça o tecido institucional. É hora de ter espírito público, sair da frente e deixar a institucionalidade seguir seu curso.

É hora de deixar Jair Bolsonaro ir embora.

Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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