Tempo estressante. Marca definidora do mundo em que vivemos. O estresse atinge todo espectro da vida no tempo e no espaço. Sem distinção de classe social. Desde básicas carências dos miseráveis, à frustração da grã-fina irritada com a entrega da bolsa Louis Vuitton.
O som ao redor é ensurdecedor. Vai dos barulhos das nossas eleições municipais ao estrondo do pleito americano que espalha narrativas e cenários distópicos, caso Trump seja reeleito. A esperança é que o mundo não encolha para inserção brasileira no espaço global e a democracia liberal volte a respirar mais aliviada.
No front interno, é travada uma guerra permanente, em que se misturam o embate de interesses legítimos e o mais mesquinho disse-me-disse. É o país enterrando seus mortos sem o direito a reverenciá-los e um inacreditável perrengue politizando a origem de uma vacina experimental. A renda mínima emerge como necessidade e esperança. O orçamento aguarda os desaforos que pode suportar. E o verde se torna cada vez mais cinza.
Pois bem, cidadão comum, sou vítima do estresse generalizado. Busco remédios sem efeitos colaterais. E zapeando a plataformas de filmes, dei de cara com Professor Polvo (Netflix, primeira produção sul-africana). Por acaso. Apostei: “vou ver se aprendo com este cara”. Que documentário fantástico! Que emoção! Que choque de humanismo!
Dois produtores Pippa Ehrlic e James Reed, acompanharam Craig Foster que buscou, através de mergulhos numa floresta subaquática, o processo de cura para sua saúde mental. Trata-se de uma produção primorosa que filmou mais de trezentos dias de mergulho em apneia.
De cara, Craig sofreu dois impactos imensos: a estética subaquática repousante cuja beleza e silêncio beiram o absoluto e a inteligência do polvo, “o gênio dos oceanos”. Ao longo dos mergulhos, estabeleceu improvável e profunda relação afetiva com o molusco. Tão bom narrador como mergulhador, Craig dá um tom agradável e coerente com a coreografia do ecossistema e revelador dos seus profundos sentimentos com um ser exótico, desconfiado e, aparentemente, arisco. Um abraço tentacular selou a amizade.
Aprendeu muito. Incorporou-se à natureza como parte dela para conquistar a confiança do polvo; percebeu a fragilidade da vida, agravada pela destruição da natureza; compreendeu o milagre da vida renascida no que deixamos para trás; assumiu a delicadeza e a gentileza que a natureza ensina.
Por fim, conheceu o indesejável predador, o tubarão. O equilíbrio da natureza cuida dele. Por enquanto, o Polvo está à disposição das nossas autoridades.
Gustavo Krause foi ministro da Fazenda