Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

‘O Pássaro Pintado’: o horror da natureza humana pelo olhar de um menino

No acachapante longa, um garoto judeu foge pelo Leste Europeu durante o Holocausto e conhece a sordidez e a crueldade

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 13h48 - Publicado em 24 jul 2020, 06h00

Quando o rosto do pequeno ator Petr Kotlár está em close, ele é em si uma paisagem, feita de fúria, indignação e desconsolo. Quando a câmera do diretor checo Václav Marhoul se afasta, porém, vê-se como o menino é frágil. Seu personagem sem nome quase some no meio dos campos e florestas fotografados em um preto e branco belíssimo, e aparece em desvantagem assustadora em relação aos seus inúmeros torturadores — aldeões de superstições medievais, um moleiro velho corroído de ciúme, soldados alemães para os quais ele é um alvo, uma jovem que o usa para satisfazer sua luxúria, os cossacos que vêm exterminar um vilarejo e um pedófilo ao qual ele é entregue por um padre iludido. Na sua fuga por um Leste Europeu de detalhes duramente realistas mas também de contornos alegóricos e fronteiras indeterminadas, o garoto judeu é como o estorninho que um camponês — um dos poucos personagens que se abstêm de fazer-lhe alguma perversidade — pinta de branco e lança ao céu: confundido com um inimigo, ele é feito em pedaços assim que se junta ao seu bando. A cena dura alguns segundos; já a odisseia do protagonista de O Pássaro Pintado (The Painted Bird, República Checa/Ucrânia/Eslováquia, 2019), que acaba de estrear na plataforma Cinema Virtual, dura quase três horas na tela, ou vários anos em tempo dramatúrgico. Ao final dela, a dúvida será se algo de humano restou nele.

Alardeado como autobiográfico, o romance do polonês Jerzy Kosinski em que o diretor se baseia foi desmascarado, nos anos 80, como uma apropriação dos relatos de outros sobreviventes do Holocausto. Essa questão de autenticidade é irrelevante diante da pergunta mais inquietante de todas — como isso foi possível? Com seu filme extraordinário, Marhoul reafirma que não há explicação para ela, só resposta: porque a natureza humana é capaz de tudo. Inclusive do fragmento de esperança com que se acena no final e que repentinamente parece imenso.

Publicado em VEJA de 29 de julho de 2020, edição nº 2697

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.