Charlize Theron lidera mercenários imortais no longa de ação The Old Guard
Na Netflix, o filme injeta melancolia, mas não originalidade ou inspiração, no universo das pessoas com grandes poderes
Degolada durante uma missão no Afeganistão, a soldado Nile (KiKi Layne) é levada quase sem vida ao hospital de campo. Na verdade, a companheira que a socorreu tem certeza de que a viu morrer em seus braços. Mas não: Nile se recupera, e o ferimento se fecha até nem deixar cicatriz. Os outros soldados tentam fingir alegria por ela ter resistido, mas, por onde Nile anda, uma nuvem de suspeição e mal-estar a acompanha; sua sobrevivência parece resultado mais de algo inatural do que propriamente um milagre. Essa ideia, de como os poderes extraordinários apartam quem os possui do restante da humanidade, é recorrente no universo contemporâneo dos super-heróis, mas é raro que ela seja tratada com tanta melancolia quanto em The Old Guard (Estados Unidos, 2020). No filme feito para a Netflix, a revelação da imortalidade da soldado Nile muda o jogo para a “velha guarda” do título, um grupo de quatro mercenários do bem, por assim dizer, que foram se encontrando uns aos outros no decorrer dos séculos. Andy, ou Andrômaca de Cítia (Charlize Theron) é a mais antiga deles, e sua líder natural. Desde que Booker (Matthias Schoenaerts) se juntou ao grupo, porém, há coisa de 200 anos, não surge um novo imortal — até a inesperada aparição de Nile, que acelera a caça a esses seres humanos especiais por um cientista que cobiça as aplicações que poderiam decorrer de um estudo, digamos, invasivo de seu genoma.
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Com os grandes lançamentos de cinema sendo empurrados pouco a pouco para datas mais tardias (Tenet em duas semanas, para 13 de agosto, e Mulan em um mês, para 21 de agosto — isso por enquanto), é atraente a possibilidade de ter um filme de ação inédito, estrelado pela atriz mais versada no ramo, à disposição em casa — e um filme com a ambição de ser o pontapé inicial de uma franquia. The Old Guard, porém, apenas reforça a sensação de que as produções feitas para o streaming frequentemente ficam um ou muitos degraus abaixo daquilo que se pretende exibir em tela grande.
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A diretora Gina Prince-Bythewood, dos medianos Nos Bastidores da Fama e A Vida Secreta das Abelhas, vem bem assessorada por coordenadores de stunts de primeira linha: as lutas são rápidas, duras, cruas e muito variadas, e algumas chegam a ser inspiradas. Mas até o ritmo em que elas se alternam com as cenas mais íntimas do relacionamento dos imortais parece cronometrado; a lógica é menos cinematográfica que de videogame (The Old Guard, na verdade, é adaptado de uma série de graphic novels). Também as reflexões sobre o desânimo que se abateu sobre o grupo (“o mundo não está melhorando; está ficando pior”, diz Andy, lamentando sua ineficácia) têm sabor de algo reciclado de roteiros mais originais. E os flashbacks para o passado longínquo de Andy, com figurinos e locações que ficariam melhor em Xena — A Princesa Guerreira, não ajudam a elevar o nível. O saldo regular contamina a atuação de Charlize, que já fez muito melhor em ação com Atômica, e brilhou no combo ação/drama com Mad Max — Estrada para a Fúria. Assim, acaba sobressaindo a relativamente novata KiKi Layne, que já impressionara em Se a Rua Beale Falasse. É um pequeno benefício: até em um filme rotineiro como este pode despontar uma nova guarda.
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Publicado em VEJA de 15 de julho de 2020, edição nº 2695
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