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A série ‘Cursed’ refaz a lenda do rei Arthur com cores feministas

A versão em tom de “empoderamento feminino” da Netflix para a história sai do nada para chegar a lugar nenhum

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 13h55 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00

Em tese, os dez episódios de Cursed: A Lenda do Lago (Cursed, Estados Unidos, 2020), já na Netflix, revisitam de forma inusitada as lendas arturianas: seu eixo não é Arthur, que extraiu da pedra a espada Excalibur e assim se tornou o rei da Inglaterra, mas Nimue ou a Dama do Lago, a divindade a quem cabe a custódia da lâmina. Onde se escreve “releitura”, porém, melhor seria dizer “gato e sapato”. Há muito mais autenticidade, compreensão histórica e emoção na sátira Monty Python em Busca do Cálice Sagrado ou no criticado Rei Arthur: A Lenda da Espada, de Guy Ritchie (isso para não falar do soberbo Excalibur, de John Boorman), do que nesta colaboração do reverenciado quadrinista Frank Miller com o roteirista Tom Wheeler. Pegando carona nas causas e afeições do público millennial, a dupla apresenta Nimue (Katherine Langford) como uma jovem rebelde (claro), hostilizada entre seu povo mágico por ter algo de demoníaco em sua origem. Perseguidos por monges sanguinários, porém, esses seres primordiais terão de reconhecer Nimue como sua rainha e sua única chance de salvação.

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Nesta reimaginação — maneira de dizer —, Arthur (Devon Terrell) é um espadachim sem honra, Morgana (Shalom Brune-Franklin) é freira e Merlin (Gustaf Skarsgard) perdeu seus poderes mágicos; outros tipos clássicos entram na história com nomes diferentes, porque alguém achou que seria divertido ter de adivinhar quem é Percival ou Lancelot (não é). Afora Skarsgard e duas outras jovens atrizes — Emily Coates como a noviça Iris e Lily Newmark como a avoada Pym —, o elenco carece de carisma. Mas os atores são de etnias diversas, o girl power é exaltado e corre-se muito para lá e para cá. Pena que se saia do nada e se chegue a lugar nenhum.

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Assim, a busca por uma série de fantasia que possa ocupar um pedaço sequer da lacuna deixada por Game of Thrones prossegue a esmo, sem que se pareça atinar com as razões para o êxito dos criadores David Benioff e D.B. Weiss — a coesão interna, o apuro dramatúrgico, a escolha criteriosa do elenco. GoT tornou desconhecidos em astros; séries como a irregular mas até simpática The Witcher, com Henry Cavill, e esta insípida Cursed acham que astros são uma substituição ao trabalho duro. Embora seja muito apreciada na sua faixa etária por 13 Reasons Why, porém, Katherine Langford não é nenhuma Emilia Clarke. Sua Nimue não consegue domar nem a própria cara de petulante e/ou contrariada, que dirá dragões.

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Publicado em VEJA de 22 de julho de 2020, edição nº 2696

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