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Vacilou, dançou

Os planos de Bolsonaro são nítidos, mas os da oposição a ele seguem obscuros

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 13h28 - Publicado em 26 fev 2021, 06h00

Conhecidos pela hesitação e dubiedade quando se trata de decidir qualquer coisa, os tucanos contrariaram essa escrita nestes tempos de preparativos pré-eleitorais apresentando dois pretendentes à Presidência da República nas figuras dos governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS).

O PT também foi nessa linha quando Luiz Inácio da Silva orientou Fernando Haddad a cair na estrada da sucessão de Jair Bolsonaro, mas o partido, além de se notabilizar pela obediência às ordens de cima (vale dizer, Lula) que sempre podem mudar, não sofre do processo (in)decisório crônico que assola o PSDB. Donde se vê como inédita e peculiar no atual cenário a atitude tucana de assumir desde já duas candidaturas.

O.k., não foi de caso bem pensado nem convenientemente medido. Ocorreu devido ao açodamento de Doria em se apossar do comando da legenda, o que provocou reação dos adversários internos. Seja como for, temos dois políticos que podem ser examinados pela população sob o prisma da eleição de 2022.

Tudo o que fizerem ou disserem terá como referência a perspectiva presidencial. Qualquer conversa com um ou com o outro inclui agora indagações sobre o que pensam em fazer diferente de Bolsonaro caso consigam desalojá-lo do Planalto.

Assim é, ou deveria ser, com todos os pretendentes a governar o país não daqui a cinco, dez anos, mas já a partir do próximo ano. Há no cenário mais de dez nomes, a maioria ainda na moldura de meras conjecturas.

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Além dos três já citados (Doria, Leite e Haddad) e do presidente em campanha, fala-se em Luciano Huck, Flávio Dino, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, Sergio Moro, Henrique Mandetta e João Amoêdo. Nenhum deles parece se dar conta do curto espaço de tempo que separa a intenção da necessidade do gesto efetivo: o de falar nessa condição ao público. Ou, então, desocupar logo o lugar.

O que se vê, no entanto, é uma indecisão pretensamente estudada, travestida de sábia precaução. Enquanto isso, parafraseando antiga propaganda de banco, o tempo voa e Bolsonaro continua numa boa tocando a campanha sem oponentes no campo objetivo do embate de projeto de país. É criticado ora de maneira explícita, ora de forma implícita, mas sempre num movimento difuso sem a necessária identificação em pessoas e finalidades concretas.

“Quem se propõe a ser presidente a partir do ano que vem já deveria dizer isso ao público”

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Os planos de Bolsonaro são nítidos, mas os da oposição a ele seguem obscuros. Só o que se ouve dos ditos doutores na ciência da política é a necessidade do aguardo. Aguardar para onde vai a economia, aguardar para onde caminhará a popularidade do presidente, aguardar os efeitos da pandemia, aguardar o momento correto de fazer alianças, aguardar a melhor conveniência de filiação partidária, e por aí vão os oponentes, numa espera cujo resultado pode ser o de não alcançarem o propósito pretendido.

Esse pessoal parece meio acovardado, com medo de errar quando é de supor que, para se mostrarem merecedores do voto, os que se pretendem presidentes teriam a obrigação de atuar como quem tem vontade de acertar e sabe como chegar lá. Acanhamento, ademais, incongruente com a ideia defendida por alguns deles sobre a urgência da interrupção do mandato de Bolsonaro.

Deveriam ser os primeiros a ter em mãos um cardápio pronto com as coisas que precisariam ser removidas e aquilo a ser posto no lugar. Isso com organização, senso de urgência, noção de prioridade, conhecimento de causa, linguagem inteligível para a maioria e coragem para dar o primeiro passo na caminhada em que Bolsonaro está léguas adiante.

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No trajeto da dianteira, contudo, o presidente deixou enormes flancos em aberto. Por exemplo, nossos candidatos (quando assumidos) poderiam dizer se, à moda de Joe Biden, que logo de início revogou decisões do antecessor consideradas prejudiciais aos Estados Unidos, estariam dispostos a rever posições de Bolsonaro nos campos interno e externo que levaram o Brasil a retroceder no trato do meio ambiente, na diplomacia, no manejo da saúde pública, na produção de cultura e até na confiança na firmeza da democracia.

Seria um bom início de conversa apresentar uma lista dessas. De providências bem objetivas mediante as quais o eleitorado pudesse ver com clareza o que cada um faria para, além de melhor governar, consertar as obras de desconstrução em diversos setores do país levadas a cabo por Jair Bolsonaro, a quem ficaria, assim, reservado um lugar de acidente na história.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 3 de março de 2021, edição nº 2727

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