Acordar às 5 horas. Entrar no banho, tomar café, ler jornais, planejar o dia. Às 8, trabalhar. Pausa das 12 às 13 horas para almoçar e checar mensagens pessoais. Voltar ao trabalho, até as 17. À noite, organizar a casa, jantar e se dedicar a algo divertido, como ouvir música ou bater papo. Às 22 horas dormir.
Não, essa não é minha rotina. A lista foi registrada há mais de 200 anos por Benjamin Franklin, inventor, escritor, filósofo, pioneiro no estudo da eletricidade e um dos pais fundadores dos Estados Unidos, entre outras credenciais. Para não perder o foco entre tantas atividades, o multitalentoso Franklin valorizava os pequenos rituais diários que agregam qualidade à nossa vida.
Costumamos pensar que grandes transformações são provocadas apenas por grandes eventos, sejam alegres ou traumáticos. A verdade, no entanto, é que mudanças significativas podem resultar também de micro-hábitos que todos somos capazes de introduzir em nosso dia a dia. Uma rotina organizada, recheada de pequenos rituais saudáveis, impacta nossa saúde e bem-estar mais do que qualquer “terapia de choque”. Observar uma rotina, no entanto, não é ligar o piloto automático. A boa rotina deriva da reflexão sobre o que nos faz bem. Ela pode ser mantida anos a fio. Ou pode ser adaptada a novas circunstâncias. O próprio Franklin estava atento a essa necessidade. No tempo arrastado das carruagens já se perguntava: “Alguma coisa pode ser constante num mundo que está sempre mudando?”.
Quer alguns exemplos de mudanças positivas na rotina? Experimente ficar em uma perna só na hora de escovar os dentes. Parece pegadinha? Calma, eu explico: esse exercício simples fortalece a musculatura dos membros inferiores e treina o equilíbrio. Tente se apoiar na perna direita quando escovar os dentes pela manhã e na esquerda à noite (ou vice-versa). Quanto mais tempo conseguir ficar apoiado em uma perna, melhor. Assim, mesmo sem dedicar uma parte do dia a exercícios físicos, é possível combater perdas musculares.
“Benjamin Franklin, que não gostava de procrastinar, dizia: “Um hoje vale mais do que dois amanhãs”
Outra sugestão: antes de dormir, deite com os ombros e a cabeça para fora da cama e os deixe pendurados por alguns minutos. Assim você dará uma bela alongada no pescoço e na coluna, algo essencial para quem trabalha o dia todo curvado sobre um computador. Além disso, você aumentará o fluxo sanguíneo no coração e no cérebro.
Algumas dessas práticas singelas ajudam a lidar com a ansiedade. Experimente, por exemplo, colocar o celular em modo avião quando for dormir. Se possível, deixe-o até em outro cômodo, para evitar dar aquela última olhada nas redes sociais antes de pegar no sono.
Quem está preocupado com o peso também pode adotar alguns hábitos simples, como tomar água antes das refeições, esperar alguns minutos para pedir uma sobremesa, evitar olhar para telas enquanto almoça ou janta e até, por incrível que pareça, alimentar-se antes de fazer compras. Todos esses hábitos ajudam a controlar a compulsão de comer, dando tempo para que o corpo registre a impressão de saciedade.
E quando começar as mudanças? Que tal já? O nosso Franklin, que não gostava de procrastinar, dizia: “Um hoje vale mais do que dois amanhãs”.
Publicado em VEJA de 17 de março de 2021, edição nº 2729