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Deonísio da Silva: Boi de piranha e dar nome aos bois

Vaqueiros usavam apenas um boi como cobaia e esperavam que o animal servisse de aviso sobre a presença ou ausência dos vorazes peixes carnívoros

Por Augusto Nunes Atualizado em 2 abr 2017, 17h44 - Publicado em 2 abr 2017, 11h09
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O boi está em muitas expressões do quotidiano, a começar por boi de piranha, pessoa sacrificada para favorecer outros. E em dar nome aos bois, com o fim de identificar os verdadeiros responsáveis por falcatruas, denunciadas de modo a poupar seus autores da execração pública.

No caso do boi de piranha, o dito nasceu de um costume dos antigos vaqueiros. Temendo haver piranhas no rio, o que seria grande prejuízo e um desastre para a travessia da tropa, usavam apenas um boi como cobaia e esperavam que o animal servisse de aviso sobre a presença ou ausência dos vorazes peixes carnívoros. Se a água ficasse avermelhada, escolhiam ponto diferente para que a boiada chegasse à outra margem, enquanto a rês sacrificada era devorada, restando-lhe em pouco tempo apenas os ossos.

Dar nome aos bois é expressão registrada também em outras línguas, ocasionalmente substituindo-se o animal por outro animal ou por objeto. Os ingleses dizem call a spade a spade (chamar pá de pá). Aliás, spade é daquelas palavras que enganam, uma vez que espada em Inglês é sword e não spade. Os franceses dizem J’appelle un chat un chat (eu chamo gato de gato). O famoso escritor francês Victor Hugo diz, com mais elegância, como de seu estilo: Je nommai le cochon par son nom; porquoi pas? (Eu chamo o porco por seu nome, por que não?).

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Nem sempre é escolha do autor omitir o nome dos bois. Ao utilizar-se deste expediente, às vezes ele diz mais sobre si mesmo do que sobre os denunciados.

E, por fim um vício de origem – a inexistente participação popular na proclamação da República – alastrou-se de tal modo na vida brasileira que os eleitores, identificados até em excesso hoje, por força das conquistas tecnológicas, continuam sem dar nome aos bois ladrões que não param de eleger e reeleger, ratificando este trecho de Machado de Assis em seu romance Esaú e Jacó: “As aparências e nomes que damos a pessoas e coisas, infelizmente, sugerem a política como uma confeitaria na qual a pretensão de agradar supera a coragem de transformar”.

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