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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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O YouTube quer se limpar (de terraplanistas, supremacistas…)

Anúncio do site da Google visa um futuro sem tanto ódio e teorias da conspiração por lá. Como ficará para youtubers como Nando Moura e Olavo de Carvalho?

Por Filipe Vilicic Atualizado em 6 jun 2019, 17h02 - Publicado em 6 jun 2019, 16h36

Ontem (5) o YouTube lançou uma promessa. Uma que demorou a chegar. O site vai se limpar de supremacistas brancos, nazistas, homofóbicos, racistas, ou seja, os frutos do pior da humanidade. Também quer se livrar dos lunáticos das teorias da conspiração, como aqueles que pregam a negação do Holocausto ou os terraplanistas. Por fim, cortará o dinheiro que chega via anunciantes a quem o YouTube não julgar como fonte confiável de informação – assim como diz que privilegiará em parcerias publicitárias as fontes confiáveis. As medidas demoraram a chegar, mas chegaram. E aposto que muitos youtubers – incluindo vários brasileiros – já estão revoltados.

O anúncio de ontem veio mais com promessas do que com ações. Uma das promessas: “proibição explícita a vídeos que afirmem a superioridade de um determinado grupo como justificativa para discriminação, segregação ou exclusão com base em características como idade, gênero, raça, casta, religião, orientação sexual ou situação de veterano de guerra”. Um representante do YouTube ouvido pela repórter Jennifer Ann Thomas explicou de forma mais direta: “Conteúdo que promova a ideia de que a homossexualidade é uma doença será considerado uma alegação de inferioridade com o propósito de incitar ódio, e será barrado. Vídeos que afirmem que mulheres são intelectualmente inferiores a homens e portanto não devem ser educadas serão interpretados como subjugação, com o propósito de alegar inferioridade, e serão banidos”. E por aí vai.

Mais uma promessa é “reduzir a disseminação de conteúdo duvidoso, que esteja no limite do aceitável”. Em exemplos concedidos pelo próprio YouTube: vídeos que “promovam falsas curas milagrosas para doenças graves ou afirmando que a Terra é plana”. Por fim: “canais que se aproximem com frequência dos limites estabelecidos em nossas políticas sobre discurso de ódio serão suspensos do Programa para Parceiros”. Ou seja, acabará o dinheiro de anunciantes para esse tipo de youtuber.

Desde o ano passado o YouTube tem se esforçado em conter grupos de ódio e turbas de conspiradores. Também pudera, pois cresceram em popularidade malucos que tentam espalhar que a Terra seria plana, outros que afirmam que o nazismo não foi a atrocidade que foi, alguns culpando negros pela escravidão dos próprios negros, e pense em tudo que há de mais preconceituoso, agressivo e vergonhoso em seres humanos.

Assim como cresceram outros problemas. A exemplo de terem aparecido vídeos que promovem a violência a crianças. Ou então a forma como o algoritmo do YouTube impulsionava a ação de pedófilos. Ou como até hoje não provou efetividade em conter a disseminação de ódio e obscurantismo pela rede.

O YouTube tem seus méritos. Não são poucos. Ações iniciadas já em 2018 – ano no qual mudou 30 vezes as suas regras de comunidade – levaram à elevação do número de gravações impróprias banidas da plataforma. Só em 2019, foram eliminados 8,3 milhões de vídeos.

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O site também passou a detectar posts que ferem as regras em 75% das vezes. Em mudanças em seus algoritmos, teve o mérito de diminuir em 80% o alcance de vídeos de supremacistas brancos e em 50% os de conspiratórios, mentirosos, obscurantistas, que espalham fake news.

Foram alguns passos, mas longe do suficiente. Demorou para o site de propriedade da Google anunciar um combate mais amplo e global a esses tipos de conteúdos, como fez ontem. Agora vale esperar para ver até onde a atitude não será só fumaça.

Outra coisa a se esperar: como será que ficam youtubers como Nando Moura e Olavo de Carvalho nessa nova onda (que para eles pode virar um tsunami)? Em outras palavras, aqueles que adotam posturas que passaram a ser ojerizadas pelo YouTube. Como, por exemplo, ser terraplanista, negar o que foi o nazismo, afirmar que cigarro não faz mal, exibir homofobia, espalhar alucinadas teorias da conspiração.

E surgem muitas outras indagações. Por exemplo, se o YouTube cumprir com o que agora promete, qual será o efeito em próximas eleições (pois as últimas foram deveras influenciadas por fake news, grupos de ódio e afins) – ainda mais levando em conta que Facebook, Twitter e Instagram também entraram nessa guerra, contra os mesmos inimigos?

Para onde migrarão os supremacistas brancos, os racistas, os homofóbicos, os conspiradores? Será que vão abrir mídias sociais só para eles mesmos? Imagino que seriam redes de muitos senhores brancos, de mal com a vida, frustrados, que se acham o máximo escondidos em cantinhos obscuros, fumando seus cachimbos, embriagando-se, enquanto xingam negros, mulheres, gays… na internet. Mas também imagino que podem ser redes bem virulentas.

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Já há quem proteste contra as novas decisões do YouTube. Esperneiam, babando raiva por aí: “Mas cadê a democracia? O YouTube não tem de dar voz a todos e qualquer um?” Para esses, bom avisar: o YouTube não é um governo, um Estado. Trata-se de uma empresa privada que pode fazer o que quiser com sua plataforma. Os que se dizem liberais, por exemplo, teriam que entender bem esse conceito.

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Em outras palavras, se o YouTube não quer nazistas, promotores da violência, supremacistas, racistas, sexistas etc. no próprio YouTube, é direito do site expulsá-los – assim como seria o meu e o teu direito chutar para fora de casa alguém que não é bem-vindo. Aqueles que não gostam podem aproveitar da dinâmica de mercado e criar sites só para si mesmos – e os seus.

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