O WhatsApp responde à reportagem de VEJA sobre o uso do app por criminosos
Post dividido em duas partes, já que é um textão (e nem muitos curtem textões nesta era de posts em redes sociais). 1ª PARTE – O CENÁRIO Para começar, em um desabafo, infelizmente há uma síndrome – anterior à internet, mas que cresceu muito com ela – de criticar sem ler. Aos que não gostam […]
Post dividido em duas partes, já que é um textão (e nem muitos curtem textões nesta era de posts em redes sociais).
1ª PARTE – O CENÁRIO
Para começar, em um desabafo, infelizmente há uma síndrome – anterior à internet, mas que cresceu muito com ela – de criticar sem ler. Aos que não gostam de ler, ao menos resumo, em poucas linhas, três pontos essenciais da reportagem de VEJA sobre o uso do WhatsApp por criminosos (leia a original neste link, sublinhado):
- O texto deixa claro que, muito devido à atitude de delinquentes e à falta de balanço entre Justiça e os interesses do WhatsApp, a maioria honesta que utiliza o aplicativo (como eu, aliás, que sou aficionado nele e no Facebook) acaba prejudicada quando a companhia tem de ser punida por descumprir a lei brasileira. Mesmo neste blog, já defendi que a suspensão do serviço é exagerada e inconsequente, apesar de não ser ilegal. Contudo, punições devem existir, sim – afinal, o Facebook, dono do WhatsApp, escolhe não colaborar com importantíssimas investigações sobre o uso desses sites e apps por PEDÓFILOS, TRAFICANTES DE DROGAS… (deixo em caixa alta justamente para ajudar aqueles que não gostam de ler tudo). A meu ver, aliás, a melhor forma de afetar a empresa, sem agredir os usuários de bem, seria ter como alvo o “bolso” da companhia (congelando suas contas no Brasil; obrigando o pagamento de multas, com as quais nunca querem arcar; ou mesmo forçando a saída do escritório deles do país, sem a retirada do serviço, em si).
- A reportagem então exemplifica a atuação criminosa, em ampla apuração, ao mostrar atos ilegais praticados por esses meios digitais. Como nesses links: 1 e 2
- No fim do texto (para quem chega até lá; infelizmente, reitero, muitos não se empenham em ler, ou se informar do assunto, antes de sair bradando), há um debate sobre soluções para o problema.
Dito isso, fortifico: não se trata de um convite para sair dessas redes. Elas têm benefícios óbvios, como o fomento à democracia e à liberdade de expressão em países não afeitos a esses conceitos (como os do Oriente Médio). Entretanto, não dá para fechar os olhos para a forma como esses programas se tornaram escudos (quase) intransponíveis para os criminosos.
Novamente, em resumo para quem não gosta de ler muito além de posts curtos no Facebook (nada de “textão”, please, diriam): em celulares, quando necessário, há grampos, que não prejudicam todos os que têm celulares, mas ajudam a pegar quem usa os aparelhos para cometer delitos (inclusive, tantos políticos que têm ido para a prisão); algo assim deveria valer para os apps de mensagens (imagine se toda a bandidagem por trás da Lava Jato tivesse ocorrido apenas pelo WhatsApp…. seria mais difícil pegá-los, hoje).
2ª PARTE – O DEBATE
Como digo lá no título, o WhatsApp reagiu à reportagem de VEJA. Era de se esperar. Como prezo pela transparência com o leitor, faça o seguinte exercício – resumo argumentos da empresa, em itálico (nenhum erro, de informação, foi apontado na matéria, diga-se de passagem), e logo na sequência dou explicações, em negrito. Vamos lá:
Em relação ao trecho da reportagem: “Em 5 de abril, o WhatsApp (…) resolveu instalar um novo mecanismo de segurança (…)”.
Reação do WhatsApp: A empresa explica que não resolveu instalar a criptografia ponta-a-ponta em abril, mas sim tem trabalhado na implantação desta tecnologia há dois anos e a conclusão deste processo se deu em abril deste ano (…).
Explicação – Desculpe, leitor, terei de apelar ao óbvio: a reportagem frisa que o recurso foi instalado, para valer, passou a aparecer para os usuários, foi anunciado, foi concluído (como queira, no verbo de preferência), em abril (como diz um post no blog da própria empresa). Em nenhum momento é falado que eles fizeram isso do dia para a noite. Aliás, neste blog, mesmo, em agradável papo com um representante da empresa, comentei desses planos antes deles serem implantados (clique no link sublinhado).
Em relação ao trecho: “Para as gigantes da web, o fundamental é resguardar a privacidade do cliente. Pouco importa se esse “cliente” é um criminoso”.
Reação do WhatsApp: O WhatsApp reitera que não permite uso inadequado ou ilegal do serviço, e desativa contas de usuários se tomar ciência de que eles estão envolvidos em tal atividade. As pessoas podem reportar abusos via aplicativo, pelo menu de configuração, colocando todos os detalhes possíveis na mensagem.
Explicação – Novamente, ao óbvio: Sim, é claro que é proibido cometer atos ilegais. Porém, eles acontecem, soltos, no WhatsApp. Quando a Justiça denuncia, ninguém retira o perfil (segundo delegados, e outras autoridades, ouvidas pela matéria). Pelo contrário, os mesmos delinquentes continuam a agir livremente no app. Indo além, pense comigo em uma situação: um traficante usa o app para vender um fuzil a um colega (caso relatado na reportagem); quem irá denunciá-los, já que a conversa é privada?; o traficante?; o comprador?.
Em relação ao trecho: “Quando a Justiça solicita, por meio de mandados, que as proprietárias dos serviços forneçam informações que possam levar à captura de traficantes de drogas e armas ou mesmo pedófilos, depara com uma posição intransigente de recusa. (…)
Reação do WhatsApp: O WhatsApp explica que colabora com toda sua capacidade com a justiça brasileira, e reitera que não tem acesso às mensagens de seus usuários e não as armazena em seus servidores (…) Em relação ao conteúdo criptografado, o WhatsApp não tem capacidade de descriptografar as mensagens ou chaves que permitiriam a descriptografia.
Explicação – O óbvio cansa, mas terei de ser óbvio mais uma vez: 1. O WhatsApp diz que colabora com a Justiça; a Justiça, porém, alega que eles não colaboram. Aliás, nem pagaram multas devidas pelo descumprimento de ordens (via a filial brasileira do Facebook, dono do WhatsApp). Indo além, não entregaram informações requisitadas por investigações policiais. Ou seja… 2. O WhatsApp, se quiser, tem a capacidade, sim, de fornecer o conteúdo pedido pela Justiça (como grampear um usuário suspeito de pedofilia). Basta se abrir, tecnicamente, para tal. TODOS os especialistas em TI e as autoridades ouvidas para a reportagem chegaram a essa mesma conclusão.
Em relação ao trecho: “Na mesma semana desse último episódio, representantes do WhatsApp vieram ao Brasil para tentar impedir que ocorressem novas suspensões”.
Reação do WhatsApp: O WhatsApp explica que esta visita já estava programada antes do bloqueio do aplicativo no país. Esta é a terceira vez que executivos do WhatsApp se encontraram com autoridades brasileiras em um período de seis meses (…).
Explicação – Para começar, representantes do próprio WhatsApp afirmaram a VEJA que iriam falar com autoridades brasileiras sobre o assunto. Pois bem, essas conversas aconteceram, sim, e a reportagem tem detalhes de como foram os encontros. Dentre outros pontos, foram discutidas formas de o app não ser suspenso no país. Ou seja, tentaram impedir que isso ocorresse novamente (repito: sou, aliás, a favor de que isso não ocorra novamente, dessa forma, como escrevi lá acima).
Mais que isso, amanhã, neste mesmo blog, darei mais detalhes dessas reuniões e dessas ações do WhatsApp. Em um “spoiler”: em, talvez, uma coincidência, na mesma semana houve relatos de pressão política em Brasília para incluir no texto da CPI dos Crimes Cibernéticos um adendo de que é proibido suspender apps de mensagens no país… interessante. Mais interessante ainda é notar que um dos grupos beneficiados pela não colaboração do WhatsApp com a Justiça é justamente o de “políticos corruptos, que conversam via WhatsApp” (segundo relatou ter ouvido uma fonte da reportagem, uma autoridade pública, de políticos atuantes em Brasília).
Sou apoiador de inovações. Elas devem ser apoiadas. Só que é preciso sempre realizar isso de forma balanceada e prudente, para que o que era para ser benéfico não se torne apenas meio de proliferação de “jogos sujos”.
Em tempo: é notável ressaltar que, até agora, o WhatsApp não se posicionou sobre os crimes relatados na reportagem, muito menos sugeriu formas práticas de combatê-los em sua plataforma.
Para acompanhar este blog, siga-me no Twitter, em @FilipeVilicic, e no Facebook.