O que falta responder sobre as milícias de Bolsonaro
Já está bem explicada a articulação de apoiadores do presidente nas redes sociais. Mas sobram questões importantíssimas
Faz tempo que acompanho neste blog – e com apoio também de trabalho de reportagem de André Lopes, da equipe da qual sou editor em VEJA – o jogo sujo de políticos nas redes sociais. Nas últimas eleições, praticamente todos os candidatos à presidência (excluindo nanicos), e incluindo aí as ações orquestradas de petistas e bolsonaristas, assim atuaram. Já é inegável, porém, que os seguidores do vencedor do pleito souberam ganhar também a peleja online. Mais que isso.
Depois das eleições, bolsonaristas não pararam de jogar sujo nas redes, ainda em táticas de como se estivessem em constante campanha – não seria o esperado que alguém já no cargo máximo da República incentivasse tais movimentos; mas assim é. Levaram também a maiores dimensões, ultrapassando diversas fronteiras morais e éticas, as baixas estratégias em Twitter, WhatsApp, YouTube, como comprovou reportagem de VEJA desta semana – assinada por Edoardo Ghirotto, Maria Clara Vieira e André Lopes. Todavia, se está já clara como é a operação de bolsonaristas nas redes, ainda restam perguntas essenciais a serem esclarecidas.
Primeiro, quais seriam as relações mais diretas entre o clã Bolsonaro e os principais atores da articulação nas redes? Articulação esta que envolve influenciadores digitais (youtubers, donos de sites de fins escusos, tuiteiros, Olavo de Carvalho), fabricantes de fake news (a reportagem comprova até falsificação de diálogo do general Santa Cruz, titular da Secretaria de Governo) e coordenadores de bots – contas “robô” do Twitter que inflam curtidas e hashtags com o intuito de manipular informações, notícias e, em especial, aumentar artificialmente a repercussão de assuntos caros ao governo.
Nos bastidores da política (e do mundo tuiteiro), comenta-se que o filho-tuiteiro Zero Dois participaria até de grupos de WhatsApp nos quais passaria pedidos à tropa virtual. Como atravessadores, dois assessores especiais do Planalto. Essa questão, aliás, é outra que poderia ser esclarecida pela própria Família Bolsonaro. É ou não é?
São muitas as perguntas que os rondam. Até onde os Bolsonaros teriam contato com influenciadores digitais que inflam assuntos de interesse do governo no Twitter e no YouTube? Como Nando Moura, que já teve essa conversa, na falta de outra palavra, estranha com o presidente. Dentre outros exemplos citados na reportagem de VEJA, como Allan dos Santos (do Terça Livre) e, novamente, Olavo.
Falta ainda responder quem cria fake news que favorecem a imagem e medidas do atual governo. São muitas as notícias fabricadas, elencadas na reportagem desta semana – e já assunto deste blog; ou desse TEDx apresentado por mim. Sabe-se quem as espalha, como o Terça Livre, o site Renova Mídia etc., além dos influenciadores digitais bolsonaristas de plantão. Contudo, repito: quem as cria?
Indo além, há uma evidente ação de bots no Twitter para inflar a relevância de assuntos. O próprio Twitter – seria bug? – indicou que hashtags como a #SomosTodosLeticia (acerca da demissão da olavista Leticia Catelani da Apex) chegaram ao patamar de assustadores 9 trilhões de compartilhamentos. Trabalho, evidentemente, dos robôs que inflam a massa de bolsonaristas reais. Não só nesse caso.
A pergunta incômoda que fica: quem paga para acionar esses bots? Talvez esteja aí a raiz dessa árvore de desinformação. Quem banca tudo isso? Bots podem ser baratos, mas não na dimensão que têm agido. E, baratos ou não, alguém tem de pagar por tudo isso. Seria com dinheiro vivo? Com cheques depositados em caixas eletrônicos? Com transferências que poderiam ser alvo da Coaf? Não se sabe. Mas a indagação permanece.
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Alguns podem também se irritar: “Mas qual seria o problema disso tudo? É ‘só’ Twitter”. O ponto central é que a popularidade de hashtags tem levado a demissões neste governo, a tomadas de atitude do presidente, a medidas que interferem na vida de todos os brasileiros. No entanto, essa popularidade é forjada, as informações são manipuladas. Na prática, o cenário virtual tem levado o Brasil a ser guiado de acordo com o mar de notícias fabricadas, puramente inventadas, as fake news, no Twitter. Em um navio que tem tido dificuldade de encontrar seu norte.
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